tag:blogger.com,1999:blog-18445671872713946092024-03-13T05:52:27.373-03:00Heróis & Mitos<i><small>"Não existem fatos, apenas interpretações" Friedrich Nietzsche</small></i>Rafael Pazhttp://www.blogger.com/profile/16761676388020743663noreply@blogger.comBlogger31125tag:blogger.com,1999:blog-1844567187271394609.post-57412555616671296252016-09-28T17:27:00.001-03:002017-08-08T00:11:06.403-03:00O que é arte?<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://4.bp.blogspot.com/-e-P83W7QRgM/V-vp9Yfn0lI/AAAAAAAAGkU/0GFmoeCE7qsDAsGDQzVfrdH36JWQ3dktQCLcB/s1600/oqueearte.png" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="320" src="https://4.bp.blogspot.com/-e-P83W7QRgM/V-vp9Yfn0lI/AAAAAAAAGkU/0GFmoeCE7qsDAsGDQzVfrdH36JWQ3dktQCLcB/s320/oqueearte.png" width="216" /></a></div>
<b>Título Original:</b> <i>Что такое искусство?</i><br />
<b>Autor:</b> Leon Tolstói<br />
<br />
<i>"Todos os artistas, público e críticos, com pouquíssimas exceções, nunca experimentaram - salvo na infância e na juventude - aquele sentimento singelo, conhecido do homem mais simples e mesmo das crianças, de ser contagiado pelos sentimentos de outrem, algo que faz com que nos alegremos com a alegria do outro, soframos com seu sofrimento e misturemos nossas alma à dele, e que constitui a essência da arte."</i><br />
<br />
O que é arte? Só mesmo um gênio da literatura como Leon Tolstói poderia responder a esta pergunta com um impressionante equilíbrio entre simplicidade e profundidade. Longe de ser mais uma teoria sobre estética, Tolstói vai muito além e disserta sobre a matéria-prima da arte verdadeira: o sentimento do artista. Para isso, o autor de <i>Guerra e Paz</i> nos leva desde as manifestações artísticas dos povos antigos até o final do século XIX, momento em que a arte se transformou em entretenimentos comerciais sem profundidade emocional - mesmo as obras esteticamente perfeitas.<br />
<br />
No início do livro, o autor mostra como a arte da antiguidade estava ligada à necessidade do povo de transmitir sentimentos elevados, que circunstancialmente para a época, era o sentimento religioso. Ele se refere aos <i>Salmos, Hinos Védicos, A Odisséia</i>, etc. Porém, <i>"a descrença das altas classes do mundo europeu no final da Idade Média criou uma situação em que a atividade artística foi substituída por uma outra cujo objetivo era proporcionar o maior prazer para um certo grupo de pessoas"</i>. A partir deste momento na História, a arte torna-se mera distração a ser consumida por uma classe nobre, ávida por pagar fortunas pelas mais supérfulas distrações. Ou seja, a arte passou de transmissão de sentimento para uma fonte de prazer.<br />
<br />
<i>"(...) essas pessoas não só não conseguem distinguir a arte verdadeira das falsificações, mas sempre confundem o que há de pior e mais falso com arte genuína, sem notar a genuína porque as falsificações são sempre mais chamativas, enquanto a arte verdadeira é modesta."</i><br />
<br />
Diante deste cenário, Tolstói vai criticar duramente o papel dos artistas de seu tempo, colocando-os como talentosos falsificadores da arte, que sabem muito bem recortar e colar de suas referências anteriores para criar novos divertimentos vazios. Isso porque é impossível que a demanda por divertimentos consiga extrair sentimentos espontâneos da experiência de vida do artista, que segundo o autor, é o fator que faz uma arte ser verdadeira. Tolstói vai enfatizar isso durante todo o livro: que a verdadeira arte é aquela que surge da necessidade que um homem comum tem de transmitir - através de algum talento - um sentimento que tenha experimentado em sua vida, a fim de contagiar os espectadores para que estes sintam a mesma experiência vivida pelo artista. <i>"As palavras são a comunicação de conhecimento, enquanto a arte é a comunicação de sentimentos"</i>, diz o escritor.<br />
<br />
Sendo assim, o gênio da literatura russa condena a produção comercial em série da arte, pois isso prejudica a sensibilidade artística do público, que acaba ficando acostumado com uma arte falsa. Apesar de ter sido escrito a mais de cem anos atrás, esta obra nunca foi tão atual diante da imensa quantidade de lixo artístico que infestam a TV, os palcos e os cinemas dos dias de hoje. Arte artificial, fabricada com o único intuito de dar lucro.<br />
<i><br />
"Quando a arte se tornou uma profissão, sua maior e mais preciosa propriedade - a sinceridade - tornou-se enfraquecida e foi parcialmente destruída."</i><br />
<br />
Seguindo esta linha, Tolstói vai exaltar alguns contos e quadros de camponeses desconhecidos, enquanto critica algumas obras de famosos - como Beethoven e Goethe - como sendo artificiais. Ele chega a criticar até mesmo suas próprias obras. Para ele, a arte tem um papel muito mais elevado do que dar prazer a uma elite entediada: a arte é o caminho para a unificação e paz entre os povos. Assim, este livro resgata a essência do ser humano, aquelas sensações sinceras e experiências intensas que somente as crianças e os cidadãos comuns experimentam... sensações essas que são a verdadeira matéria-prima da arte que toca o público e coloca a Humanidade em um caminho de unidade através desta comunicação de sentimentos.<br />
<br />
Em resumo, <i>O que é arte?</i> não é um livro que serve para alimentar o ego de intelectuais com teorias bonitas, para que impressionem em textos, críticas e aulas. A obra de Tolstói é uma riquíssima - porém incômoda - reflexão sobre o papel da arte como catalisador do bem comum entre os homens, através da comunicação por sentimentos. E infelizmente, esta necessidade de comunicar sentimentos vem sendo substituída com entretenimentos vazios, gerando assim uma sociedade fria, robótica, depressiva e carente emocionalmente.<br />
--<br />
E você, o que pensa sobre esta polêmica visão de Tolstói? Concorda? Discorda? Deixe o seu comentário!Rafael Pazhttp://www.blogger.com/profile/16761676388020743663noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-1844567187271394609.post-85820094516622702842016-08-08T23:59:00.000-03:002017-08-08T00:11:06.428-03:00O Senhor das Moscas<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://2.bp.blogspot.com/-GICOdMPIXKo/V6laQoyApwI/AAAAAAAAGhg/wxzlpSbn4fIue7txiWTVI4ZF2ybuZKh6gCLcB/s1600/senhordasmoscas.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="320" src="https://2.bp.blogspot.com/-GICOdMPIXKo/V6laQoyApwI/AAAAAAAAGhg/wxzlpSbn4fIue7txiWTVI4ZF2ybuZKh6gCLcB/s320/senhordasmoscas.jpg" width="204" /></a></div>
<b>Título Original:</b> <i>Lord of the Flies</i><br />
<b>Autor:</b> William Golding<br />
<br />O que aconteceria se um bando de crianças fossem largadas em uma ilha deserta? Como sobreviveriam e como se organizariam em sociedade? Em <i>O Senhor das Moscas</i>, o ganhador do prêmio Nobel Willian Golding responde a estas perguntas através de uma história que desnuda a natureza humana no contexto dos relacionamentos pessoais e construções sociais. Não há nada mais cativante do que trabalhar com as emoções infantis. O autor soube usar com maestria esses elementos para mostrar como o ser humano rompe com facilidade os limites entre a civilidade e selvageria, entre a inocência e a violência, entre a democracia e a autocracia.<br />
<br />
<i>“- Acho que precisamos de um chefe para resolver as coisas.</i><br />
<i>- Um chefe! Um chefe!</i><br />
<i>- Eu é que devo ser o chefe - disse Jack com uma arrogância simples - porque sou chefe do coro, além de solista. E consigo atingir o dó sustenido.”</i><br />
<br />
A sinopse é curiosa: um avião cheio de crianças cai em uma ilha deserta e os únicos adultos presentes no voô (os pilotos) morrem na queda. Assim, um bando de crianças inglesas, entre seis e treze anos de idade, devem se virar para sobreviver e ao mesmo tempo tentar chamar a atenção para serem resgatados por algum navio. No início tudo é festa e brincadeira. Eles encontram frutas para comer. Porém a necessidade de ordem e de caçar os leva a viver momentos de tensão e desavenças, numa disputa intensa por poder.<br />
<br />
<i>“- Tem coisas que os adultos sabem. - disse Porquinho - Eles não sentem medo do escuro. Eles se encontram, tomam chá e conversam. E aí os problemas se acabavam.”</i><br />
<i><br /></i>
O autor se mostra extremamente competente ao construir personagens infantis muito convincentes, através de diálogos que surpreendem pela inocência, pureza e espontaneidade. Ao longo da trama, o caráter de cada pequenino é revelado aos poucos, conforme as circunstâncias vão ficando extremas e difíceis. Essa evolução - ou involução - lenta e gradual de alguns personagens é um fator decisivo que faz de <i>O Senhor das Moscas</i> uma obra-prima.<br />
<div>
<i><br /></i>
<span style="font-style: italic;">“- E eu, não ganho nada?</span><br />
<span style="font-style: italic;">Tinha sido mesmo intenção de Jack deixá-lo na dúvida, para reafirmar o seu poder; mas Porquinho, ao anunciar ter sido preterido, tornou necessária a crueldade adicional.</span><br />
<span style="font-style: italic;">- Você não caçou.”</span><br />
<br />
Além disso, o livro levanta, de forma indireta, diversas questões filosóficas e sociológicas interessantes. O que somos de fato? Somos produtos do meio, ou o meio é um produto nosso? Qual é o modelo ideal de organização política? Um modelo inclusivo que prioriza a vida e a diversidade vocacional, mesmo que isso acarrete mais lentidão no desenvolvimento tecnológico? Ou um modelo exclusivista, cuja prioridade está nas conquistas materiais através da meritocracia e padronização do ser humano? O que funciona melhor: o diálogo ou a imposição autoritária? Como os mitos, crenças e fanatismos são originados? Enfim, a história trata sutilmente dessas e de outras questões, nas entrelinhas dos conflitos entre os personagens.<br />
<br />
<i>“Eu tenho medo dele - disse Porquinho - e é por isso que eu sei quem ele é. Quando você sente medo de alguém, odeia a pessoa mas não consegue parar de pensar nela. Você se engana, diz que no fundo ele é bom, mas então, da próxima vez que encontra a pessoa, parece que tem uma crise de asma, e não consegue respirar. E vou dizer mais uma coisa. Ele detesta você também, Ralph."</i><br />
<br />
Enfim, <i>O Senhor das Moscas</i> é leitura obrigatória para aqueles que não se contentam com meras ficções escapistas. É uma obra cativante, visceral, tensa e rica em reflexões importantes sobre a natureza do ser humano e seu papel nas relações sociais. Além disso, a obra serviu de inspiração para vários sucessos comerciais na literatura e no cinema, dentre eles <i>Battle Royale (Koushun Takami, Japão, 1999)</i> e <i>Jogos Vorazes (Suzanne Collins, EUA, 2008)</i>.<br />
<br />
<i>Puxou a faca da bainha e a cravou no tronco de uma árvore. Da próxima vez não teria piedade. Olhou em volta com ar feroz, desafiando os outros a duvidar do que dizia.</i><br />
<br />
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<br />
E você, já leu? Conte nos comentários o que achou da leitura!</div>
Rafael Pazhttp://www.blogger.com/profile/16761676388020743663noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-1844567187271394609.post-514483224789712942014-04-07T07:00:00.001-03:002020-11-20T15:26:22.517-03:00O Apanhador no Campo de Centeio<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
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<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="http://4.bp.blogspot.com/-9GzYyePikjc/U0C3wiolepI/AAAAAAAAAnQ/LjW8bzuSdFM/s1600/apanhador2.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="320" src="https://4.bp.blogspot.com/-9GzYyePikjc/U0C3wiolepI/AAAAAAAAAnQ/LjW8bzuSdFM/s1600/apanhador2.jpg" width="226" /></a></div>
<b>Título Original: </b><i>The Catcher in the Rye</i><br />
<b>Autor: </b>Jerome David Salinger (1919-2010)<br />
<i><br /></i>
<i>"- E a vida é um jogo, meu filho. A vida é um jogo que se tem de disputar de acordo com as regras. </i><br />
<i>- Sim, senhor, sei que é. Eu sei.</i><br />
<i>(...)</i>
<i>Jogo uma ova. Bom jogo esse. Se a gente está do lado dos bacanas, aí sim, é um jogo - concordo </i><i>plenamente. Mas se a gente está do outro lado, onde não tem nenhum fodão, então que jogo é esse? Que </i><i>jogo, que nada."</i><br />
<br />
Mais que um livro, um agente transformador! Esta é a melhor frase que encontrei para expressar o sentimento que ficou ao terminar de ler <i>"O Apanhador no Campo de Centeio",</i> de J. D. Salinger, um dos maiores clássicos da literatura moderna e talvez um dos livros mais importantes da revolução cultural ocorrida na segunda metade do século XX. Esta singela narrativa fascina leitores de todas as idades pelo seu cativante protagonista adolescente, pela linguagem informal e de baixo calão e por ser uma obra pioneira a falar abertamente dos conflitos internos dos jovens.<br />
<br />
Um dos pontos mais importantes de uma obra literária são seus personagens. Talvez seja o ponto mais importante. Ao término de uma leitura, pode-se avaliar o grau de qualidade da obra pela saudade que o leitor fica de seus protagonistas. Livros medianos ou ruins - mesmo que possuam boas tramas - fazem dos personagens meros robôs falantes que nunca deixarão saudades, nunca farão o leitor revisitá-los em outros momentos, como se revisita amigos de longas datas. Assim, o papel do bom escritor não é criar meros personagens, mas sim criar amigos do leitor, daqueles que dão prazer de seguir, imitar, compartilhar, conversar... de simplesmente estar junto. Quando o autor consegue esta magia, ele alcança seu <i>Magnum opus</i>. Em <i>"O Apanhador no Campo de Centeio",</i> Salinger nos presenteia com um personagem-amigo que tem marcado a vida de milhões de leitores desde seu lançamento em 1951.<br />
<br />
<div>
<i>"Estou sempre dizendo: "Muito prazer em conhecê-lo" para alguém que não tenho nenhum prazer em conhecer. Mas a gente tem que fazer essas coisas para seguir vivendo."</i><br />
<i><br /></i>
A trama de<i> "O Apanhador..."</i> é a mais simples possível. O protagonista, Holden Caulfield, é um adolescente que, após ser expulso de seu colégio, narra os acontecimentos dos dias subsequentes a este vexame. Neste tempo, ele encontra amigos, professores e a irmã mais nova, vagueia por ruas e bares, conhece pessoas diferentes e tenta ao máximo adiar a notícia da expulsão para os pais.<br />
<br />
Nota-se que não é a trama que faz deste livro uma obra prima, mas sim o personagem principal com seus diálogos inocentes e pensamentos autênticos. Sua visão de mundo é livre de hipocrisia e cheia de questionamentos que ninguém é capaz de entender, somente o leitor. Relacionamentos, amizade, sexo, drogas, futilidades, cultura, aceitação, rejeição e mais um turbilhão de questões internas que todo adolescente possui - mas raramente as expõe - são os assuntos deste personagem que conversa com o leitor numa linguagem informal, pura e sincera. No decorrer da leitura, é impossível não se identificar com o jovem Caulfield. O leitor, independente da idade, certamente encontrará nos pensamentos do protagonista aquilo que ele mesmo sempre pensou, mas nunca teve coragem de se expressar. Sem nenhum sentimentalismo, <i>"O Apanhador no Campo de Centeio"</i> é um livro libertador!<br />
<br />
<i>"Os colégios de rapazes estão entupidos de cretinos, e você só faz estudar bastante para poder um dia comprar uma droga dum cadilaque, e você é obrigado a fingir que fica chateado se o time de futebol perder, e só faz falar de garotas e bebida e sexo o dia inteiro, e todo mundo forma uns grupinhos nojentos. Os caras do time de basquete formam um grupinho, os camaradas que jogam bridge formam um grupinho. Até os que são sócios da porcaria do Clube do Livro formam um grupinho. Se você tenta bater um papo inteligente..."</i><br />
<br />
Lançado em 1951, este livro foi uma obra pioneira na expressão dos questionamentos e conflitos internos dos jovens, sempre ignorados até então. Na verdade, conceitos como "adolescente" e "jovem" - como os conhecemos hoje - não existiam até o início do século XX. Desde a antiguidade, as "crianças" passavam para a idade adulta em média aos quatorze anos, onde casavam-se e trabalhavam. Após a Revolução Industrial, no séc XIX, fora criada uma etapa na vida dos jovens, entre treze e dezoito anos de idade, para que eles pudessem se preparar para a vida adulta - embrião do conceito de "adolescência".<br />
<br />
Porém, até a metade do séc. XX, ninguém se preocupara em mostrar ao mundo o clamor de inadequação e o choque que a natureza jovem encontra ao se deparar com um mundo tão hipócrita, falso e fútil. Neste momento é que chega a obra prima de Salinger, abrindo caminho para um revolução cultural jamais vista na história, quebrando inúmeros paradigmas e tabus da sociedade.<br />
<br />
<i>"O caso é o seguinte: na maioria das vezes que a gente está quase fazendo o negócio com uma garota - uma garota que não seja uma prostituta nem nada, evidentemente - ela fica dizendo para a gente parar. Meu problema é que eu paro. A maioria dos sujeitos não pára, mas eu não consigo ser assim. A gente nunca sabe se elas realmente querem que a gente pare, ou se estão apenas com um medo danado, ou se estão pedindo que a gente pare só para que, se a gente continuar mesmo, a culpa seja só nossa, e não delas."</i><br />
<br />
Em suma, <i>"O Apanhador no Campo de Centeio"</i> merece ser lido, relido, pensado, refletido e propagado. Obviamente que ele não tem hoje o mesmo efeito revolucionário que teve sessenta anos atrás, mas a essência de sua mensagem continuará marcando a vida de milhões ainda por muito tempo.</div>
Rafael Pazhttp://www.blogger.com/profile/16761676388020743663noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-1844567187271394609.post-9640543809732197222014-03-31T07:00:00.000-03:002017-08-08T00:11:06.438-03:00O Príncipe<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="http://1.bp.blogspot.com/-LDFgj4Zny24/UzRN8kpgzeI/AAAAAAAAAmw/BSskZ9yoXI8/s1600/oprincipe.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="http://1.bp.blogspot.com/-LDFgj4Zny24/UzRN8kpgzeI/AAAAAAAAAmw/BSskZ9yoXI8/s1600/oprincipe.jpg" height="320" width="208" /></a></div>
<b>Título Original:</b><i> Il Principe</i><br />
<b>Autor:</b> Nicolau Maquiavel (1469-1527)<br />
<i><br /></i>
<i>"A crueldade bem empregada - se é lícito falar bem do mal - é aquela que se faz de uma só vez, por necessidade de segurança; depois não se deve perseverar nela, mas convertê-la no máximo de benefícios para os súditos."</i><br />
<br />
Falar de <i>"O Príncipe"</i> de Maquiavel é entrar em um campo caótico e difícil para uma sociedade cujos ideais políticos sejam a perfeição moral, a bondade e a felicidade para todos. Talvez um dos mais importantes tratados que definiu o Estado moderno como o conhecemos, o livreto ainda causa polêmicas e é mal interpretado por alguns. Por outro lado, é o livro de cabeceira de todos os que alcançaram o poder nos últimos 500 anos, sejam reis, ditadores ou presidentes de repúblicas democráticas. Hoje, a obra é analisada meticulosamente em cursos de liderança para a carreira política, empresarial e militar.<br />
<br />
<i>"O homem que quiser ser bom em todos os aspectos terminará arruinado entre tantos que não são bons. Por isso é preciso que o príncipe aprenda, caso queira manter-se no poder, a não ser bom e a valer-se disso segundo a necessidade. (...) Pois com pouquíssimos atos exemplares ele se mostrará mais piedoso que aqueles que, por excesso de piedade, permitem uma série de desordens seguidas de assassínios e roubos."</i><br />
<br />
Escrito em 1513, <i>"O Príncipe"</i> trata-se de uma carta de conselhos a Lourenço II de Médici (1492–1519), Duque de uma província italiana em uma época em que a Itália encontrava-se totalmente dividida. É importante conhecer o contexto e os motivos que levaram Maquiavel a escrever declarações tão fortes, desprovidas de moral ou de senso de humanidade. Maquiavel desejava a unificação da Itália, bem como um bom cargo na alta aristocracia, caso Médici conseguisse conquistar a região com seus conselhos, o que não aconteceu. Assim, conquistar e governar um reino nas condições caóticas em que a Itália se encontrava necessitava de atitudes rígidas, temíveis e astutas, ou, em outras palavras, necessitava que os <i>fins justificassem os meios</i>.<br />
<br />
<i>"A ofensa que se faz ao homem deve ser tal que não se possa temer vingança."</i><br />
<br />
Existe uma teoria - não comprovada - de que Maquiavel tenha escrito <i>"O Príncipe"</i> como uma sátira ao poder monárquico, já que ele possui outros escritos defendendo a política democrática. Olhando por este ângulo, chega a ser "malignamente engraçado" a forma que Maquiavel pinta o quadro do príncipe perfeito: um agente sem alma, uma entidade que ignora os conceitos de "bem" e "mal" e simplesmente deve fazer o necessário para manter-se no poder, prosperar sua nação e expandir seus territórios. Mas, caso não seja sátira - o que é provável - aqui o autor rompe com as interpretações filosóficas da Grécia antiga sobre os fundamentos da boa política, cujos objetivos eram a "felicidade" e o "bem comum". Além disso, Maquiavel acaba com tradições religiosas sobre as quais acreditava-se que os ciclos no poder decorriam da determinação divina ou eram provenientes do "direito divino".<br />
<br />
No decorrer do livro Maquiavel recorre a inúmeros exemplos históricos - desde os imperadores da antiguidade até os reis europeus de sua época - para mostrar como de fato funciona o jogo do poder e quais são as regras para se ganhar este jogo. Para ele, não adianta o governante ser utópico, cheio de teorias políticas bonitas, pacíficas e inocentes. O jogo do poder é selvagem, uma terra de ninguém, um lugar desumano. Por isso, Maquiavel trata da política não como ela deveria ser, mas como ela é. Assim, seus conselhos - não ao pé da letra, mas adaptados de forma racional ao contexto de cada época e lugar - podem ser úteis para o bom funcionamento de qualquer Governo, seja ele uma monarquia, república ou ditadura.<br />
<br />
<i>"É melhor ser amado ou temido? Todos gostariam de ser ambas as coisas; porém, como é difícil conciliá-las é bem mais seguro ser temido que amado... pois os homens são ingratos, volúveis, fingidos e dissimulados, avessos ao perigo, ávidos de ganhos."</i><br />
<br />
Em suma, concordando ou não com as idéias de Maquiavel, <i>"O Príncipe"</i> é um livro obrigatório para entendermos como realmente funciona o poder político no mundo. Aconselho a ler a <a href="http://www.companhiadasletras.com.br/penguin/titulo.php?codigo=85009" target="_blank">edição da Ediora Penguin Companhia das Letras</a> (capa da imagem no topo do artigo), que, além de ter uma tradução atual e fácil, conta também com um excelente prefácio do ex-presidente do Brasil, Fernando Henrique Cardoso e um apêndice sobre cada personagem e fato histórico mencionado pelo autor. Evitem ler edições com tradução muito antiga.<br />
<br />
E você, já leu <i>"O Príncipe"</i>? Comente abaixo sobre esta polêmica e importante obra!<br />
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PS: mais alguns conselhos maquiavélicos extraídos do livro:<br />
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<i>"O mais importante é abster-se dos bens alheios, pois os homens se esquecem com maior rapidez da morte de um pai que da perda do patrimônio."</i><br />
<i><br /></i>
<i>"Um soberano prudente não pode nem deve manter sua palavra quando isto se reverta contra ele e já não existam os motivos que o levaram a empenhá-la."</i><br />
<i><br /></i>
<i>"Nunca houve um príncipe que desarmasse seus súditos; ao contrário, quando os encontrou desarmados, sempre os armou; isso porque, ao armá-los, tais armas se tornam suas."</i><br />
<i><br /></i>
<i>"O desejo de conquista é coisa realmente natural e comum e os homens que podem satisfazê-lo serão louvados sempre e nunca recriminados. Mas não o podendo, e querendo fazê-lo de qualquer modo, aí estão em erro, e merecem censura."</i><br />
<i><br /></i>
<i>"Quem cria o poder de outrem se arruína, porque tal poder se origina da astúcia ou da força, e ambas são suspeitas a quem se tornou poderoso."</i><br />
<div>
<i><br /></i></div>
<i>"Jamais se deve deixar que um distúrbio se alastre a fim de evitar uma guerra, porque a guerra é inevitável, e postergá-la só traz vantagens ao adversário."</i><br />
<i><br /></i>
<i>"A melhor fortaleza que há é não ser odiado pelo povo."</i><br />
<i><br /></i>
<i>"E quando for imprescindível agir contra o sangue de alguém, que o faça por uma justificativa sólida e um motivo evidente."</i>Rafael Pazhttp://www.blogger.com/profile/16761676388020743663noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-1844567187271394609.post-63019374315064646392014-03-24T07:00:00.000-03:002017-08-08T00:11:06.406-03:00O Coração das Trevas<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
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<a href="http://2.bp.blogspot.com/-nO_Tg4NiWR8/UyYPXmKdV2I/AAAAAAAAAmc/x_c7EFfbWuM/s1600/coracaodastrevas.png" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="http://2.bp.blogspot.com/-nO_Tg4NiWR8/UyYPXmKdV2I/AAAAAAAAAmc/x_c7EFfbWuM/s1600/coracaodastrevas.png" /></a></div>
<b>Título original:</b> <i>Heart of Darkness</i><br />
<b>Autor:</b> Joseph Conrad (1857 - 1924)<br />
<br />
<i>"A conquista da Terra, o que na maior parte significa tirá-la daqueles que tem uma fisionomia diferente ou narizes ligeiramente mais achatados do que os nossos, não é uma coisa bonita quando você olha demais para ela."</i><br />
<i><br /></i>
Nesta obra prima da literatura inglesa, Joseph Conrad conduz o leitor a uma fascinante viagem pelo interior da África e, ao mesmo tempo, pelos meandros da mente humana, revelando seus mais grotescos anseios, ganancias, preconceitos, loucuras e fraquezas. Como capitão da marinha inglesa durante 16 anos, Conrad percorreu todos os continentes do globo, tirando disso experiências que se tornaram os cenários de seus inúmeros livros e contos. O tema principal de <i>"O Coração das Trevas"</i> é a fusão do civilizado com o selvagem no interior do ser humano, cujos limites são desconhecidos e se misturam quando o homem é movido pela ganância.<br />
<br />
O livro conta a história de um marinheiro chamado <i>Marlow</i>, que parte em uma missão de resgate do misterioso <i>Kurtz</i>, um importante comerciante de marfim, no interior de uma floresta africana ao final do séc. XIX. A jornada acontece em um barco a vapor através de um sinuoso rio que penetra uma tenebrosa floresta repleta de nativos selvagens e exploradores loucos. Esta obra magnífica deu origem ao clássico filme <i>"Apocalipse Now"</i> de Francis Ford Coppola, sendo que na adaptação para o cinema a história foi transportada para a guerra do Vietnã.<br />
<br />
Conrad narra sua odisséia com impressionante realismo, detalhando com precisão a bela natureza do local, levando o leitor a uma emocionante experiência imersiva. O ritmo de leitura pode cansar em alguns momentos, pois trata-se de uma obra muito descritiva, cujo valor da mensagem encontra-se implícito no perfil psicológico de seus personagens. É impressionante como o autor consegue centrar toda a trama em um personagem que só vai aparecer no final. Durante toda a travessia no rio, <i>Marlow</i> e o leitor vão aos poucos recebendo uma série de informações sobre o poderoso e misterioso <i>Kurtz</i>, um homem que contagiara toda uma região e tornara-se uma espécie de rei/semi-deus entre nativos e comerciantes na selva.<br />
<br />
<i>" 'O senhor não fala com o Sr. Kurtz?', disse eu. 'Você não fala com aquele homem – você o escuta', exclamou com severa exaltação. (...)</i><i> 'Quem não se tornaria amigo dele ao ouvi-lo falar, ainda que fosse uma só vez?', dizia ela. 'Atraía as pessoas em direção a ele com o que havia de melhor nelas ... esse é o dom dos grandes homens'."</i><br />
<i><br /></i>
Este é um livro difícil para se fazer uma reflexão, visto que ele aborda questões complexas da mente humana e temas contrastantes como os limites entre bem e mal, certo e errado, civilizado e selvagem, loucura e normalidade. Aconselho a ler a obra duas vezes. A primeira para se ter uma visão livre, na qual o leitor possa tirar suas próprias conclusões. Antes de ler uma segunda vez, pesquise a respeito, leia teses e análises sobre a obra na internet. O tom implícito do autor transforma este livro em uma obra de arte subjetiva e sublime, repleta de sentenças impactantes e poéticas, cheias de significado.<br />
<i><br /></i>
<i>"Coisa engraçada é a vida – misterioso arranjo de lógica implacável para um propósito fútil. O máximo que você pode esperar dela é algum conhecimento de si próprio...que chega tarde demais...uma colheita de inesgotáveis arrependimentos."</i><br />
<i><br /></i>
O livro também denuncia como o imperialismo das grandes potências trata o ser humano diferente e mais fraco como verdadeiros animais. Alguns taxam a obra de racista, pela diferença como o autor descreve os nativos dos colonizadores, sendo os primeiros apresentados através de suas características físicas, enquanto os segundos pelas suas profissões. Este fato é explicado pela realidade e época em que Conrad viveu, muito diferente da nossa, em que a visão acerca de povos não explorados era a mais bizarra possível.<br />
<br />
Leitura obrigatória!Rafael Pazhttp://www.blogger.com/profile/16761676388020743663noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-1844567187271394609.post-72141366308574411082014-03-17T07:00:00.000-03:002017-08-08T00:11:06.419-03:00A História Sem Fim<b>Título original:</b> <i>The Neverending Story</i><br />
<b>Autor:</b> Michael Ende<br />
<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="http://4.bp.blogspot.com/-KqING7HVfwk/Uxd0v_T9zuI/AAAAAAAAAk4/ReOD20RSUxE/s1600/neverending-story-book.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="http://4.bp.blogspot.com/-KqING7HVfwk/Uxd0v_T9zuI/AAAAAAAAAk4/ReOD20RSUxE/s1600/neverending-story-book.jpg" height="239" width="320" /></a></div>
<i>"Que são todos vocês, seres de Fantasia? Figuras de sonho, invenções do reino da poesia, personagens de uma História Sem Fim! Você se julga real, filhinho? Pois bem, aqui, neste mundo, você é. Mas, se entrar no Nada, deixa de existir. (...) Transformaram-se em desvarios da mente humana, em imagens geradas pelo medo, quando, na realidade, não há nada a temer; em desejo de coisas que os tornam doentes, em idéias de desespero, quando não há razões para desesperar."</i><br />
<br />
<br />
O gênero Fantasia na literatura moderna tem a difícil tarefa de criar mitologias, seres surreais e mundos mirabolantes sem ser piegas ou demasiadamente infantil, a não ser, é claro, que se trate de uma obra específica para este público. Ao passar por este crivo, um livro fantástico ainda tem o desafio de não ser mais uma cópia barata de <i>"O Senhor dos Anéis"</i>, obra que redefiniu o gênero. Assim, o magnífico livro de Michael Ende,<i> "A História sem Fim"</i>, passa por todos estes testes e consagra-se, não como mais uma historinha escapista, mas como uma maravilhosa fonte de criatividade e lições importantes sobre como arquétipos fantasiosos do nosso inconsciente estão diretamente ligados com o que acontece no mundo real.<br />
<br />
<i>Bastian</i>, um menino gordo e vítima de <i>bullying</i> que perdeu a mãe e vive com o pai - provedor mas ausente -, rouba um livro numa livraria e passa um dia inteiro lendo-o. Este livro conta a história de <i>Atreyu</i>, uma espécie de elfo que vive em mundo chamado<i> Fantasia</i>. Este mundo possui muitos seres fantásticos dos mais variados e é regido pela <i>Imperatriz Criança</i>. Porém, ele está ameaçado pelo <i>Nada</i>, e, como o próprio nome sugere, é nada e sua função é simplesmente levar a inexistência seres e objetos de <i>Fantasia</i>. <i>Atreyu </i>então é convocado pela <i>Imperatriz</i> a encontrar o <i>Salvador</i>, alguém que será capaz de dar a ela um nome e assim impedir que <i>Fantasia</i> desapareça. Durante a leitura, <i>Bastian</i> passa por incríveis experiências que mudam sua vida para sempre.<br />
<br />
Apesar de parecer infantil, <i>"A História Sem Fim"</i> é divertimento garantido para pessoas de oito a oitenta anos, sendo que a mensagem passada é muito mais voltada para os adultos. Empolgante, inovador e criativo, sua leitura é leve, com boas doses de humor e aventura, tudo na medida certa. Sem limites na imaginação, Ende cria personagens cativantes e profundos, onde cada lugar ou ser fantástico possui um importante papel nesta engenhosa metáfora sobre o ser humano e seus relacionamentos.<br />
<br />
O que é "fantasia"? O que são os contos de fada e mitos? São a mesma coisa que "mentiras"? Segundo Michael Ende, fantasia e mentira são coisas diferentes. Os contos mitológicos, contos de fadas, fantasias, etc não são mentiras, mas são verdades alegóricas que representam os mais profundos anseios e sentimentos humanos. Ao mergulhar no mundo fantástico e entender os princípios universais do inconsciente coletivo, consegue-se compreender melhor o ser humano. Deste modo, podemos amar com mais intensidade, realizar nossos sonhos e lutar melhor pela coletividade. Porém, quando abandonamos as fantasias, desprezando-as como mentiras, elas passam a ser de fato mentiras, fantasmas que arruínam os nobres ideais dos heróis que habitam em nossos sonhos.<br />
<br />
Quem teve o privilégio de passar sua infância/adolescência nos anos 80 certamente deliciou-se inúmeras vezes com o emocionante filme de 1984, <i>"A História sem Fim"</i>, baseado no livro. Porém poucos chegaram a mergulhar mais fundo no Reino de Fantasia. A adaptação cinematográfica que marcou a juventude de muitos termina na metade do livro e o segundo longa foi um desastre em adequação à obra original. Aproveitando a onda de <i>remakes</i> inúteis que tem invadido os cinemas ultimamente, esta aí uma excelente história que poderia ser recontada nas telonas de forma mais fiel ao livro, com melhores efeitos e acredito que caberia em uma trilogia. E uma coisa não poderia faltar: a esplêndida <a href="http://www.youtube.com/watch?v=s7KBIMFlRRY" target="_blank">canção tema do filme original</a>, composta por Giorgio Moroder e Keith Forsey e interpretada por Limahl. Simplesmente maravilhosa!<br />
<br />
<i>"Todos os que nos vêm visitar aprendem coisas que só aqui podem aprender e regressam modificados ao seu mundo. Seus olhos se abrem, pois eles se vêem em seu verdadeiro aspecto. Por isso, também podem olhar com novos olhos seu próprio mundo e os outros homens. Descobrem de repente maravilhas e segredos onde outrora só viam a monotonia do cotidiano. Era por isso que eles gostavam de vir até nós. E quanto mais rico e florescente se tornava o nosso mundo graças às visitas deles, menos mentiras havia em seu mundo, e mais perfeito também era esse mundo para eles."</i><br />
<br />
Em suma, <i>"A História sem Fim"</i> é uma obra encantadora que vai deixar crianças empolgadas e adultos inspirados por uma mensagem arrebatadora. Leitura obrigatória!<br />
<br />Rafael Pazhttp://www.blogger.com/profile/16761676388020743663noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-1844567187271394609.post-53668122306200851982014-03-10T11:38:00.001-03:002020-11-20T15:26:34.151-03:00A Metamorfose<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="http://3.bp.blogspot.com/-hUqQA-c5Xho/Uxt_qKIy3HI/AAAAAAAAAl0/3jyjtjrRtCg/s1600/metamorfose.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="http://3.bp.blogspot.com/-hUqQA-c5Xho/Uxt_qKIy3HI/AAAAAAAAAl0/3jyjtjrRtCg/s1600/metamorfose.jpg" height="320" width="220" /></a></div>
<b>Título original:</b> <i>Die Verwandlung</i><br />
<b>Autor:</b> Franz Kafka<br />
<br />
<i>"Numa manhã, ao despertar de sonhos inquietantes, Gregor Samsa deu por si na cama transformado num gigantesco inseto."</i><br />
<br />
Não sou crítico literário e nem pretendo fazer uma análise dissecada de todos os significados intrínsecos contidos nesta obra prima de Kafka. Sim, <i>"A Metamorfose" </i>merece este tipo de análise e no final do texto coloquei um link para um artigo mais profundo sobre a obra. Assim, esta resenha apenas descreve o imenso valor de um livro fascinante, tanto para os intelectuais que captam todas as mensagens subliminares do texto, como para os que simplesmente querem um entretenimento bem escrito.<br />
<br />
Este brilhante livreto de Kafka conta a absurda história de Gregor, um caixeiro-viajante que acorda numa manhã transformado em um inseto, como diz a primeira frase do livro citado no início do artigo. A partir deste fato insólito, o leitor acompanha a exaustiva e tensa luta desta "barata" para sobreviver e ser aceito pelos seus familiares. Durante sua empreitada e em meio a descrições extensas e detalhadas das dificuldades do bicho, Kafka narra aos poucos o estilo de vida que Gregor tinha antes da metamorfose, entregando assim pistas acerca da mensagem por trás desta loucura.<br />
<br />
São em livros como este que podemos ver a diferença entre escritores e gênios da literatura. Com uma trama simples e aparentemente ridícula, Kafka consegue prender a atenção do leitor com descrições ricas em detalhes e cheias de suspense, dando vida às emoções profundas de um personagem no qual o leitor se identifica e sente seus sofrimentos.<br />
<br />
<i>"Libertar-se da colcha era tarefa bastante fácil: bastava-lhe inchar um pouco o corpo e deixá-la cair por si. Mas o movimento seguinte era complicado, especialmente devido à sua invulgar largura. Precisaria de braços e mãos para erguer-se; em seu lugar, tinha apenas as inúmeras perninhas, que não cessavam de agitar-se em todas as direções e que de modo nenhum conseguia controlar. Quando tentou dobrar uma delas, foi a primeira a esticar-se, e, ao conseguir finalmente que fizesse o que ele queria, todas as outras pernas abanavam selvaticamente, numa incômoda e intensa agitação."</i><br />
<br />
Esta bizarra narrativa transmite ao mundo uma metáfora profunda acerca de como a impessoalidade e burocracia dos sistemas sociais modernos rebaixam o ser humano a uma condição humilhante de meros insetos, abelhas operárias facilmente substituíveis. Gregor, antes de se tornar um inseto, na verdade já viva em condições semelhantes. Odiava seu trabalho, mas não podia largar. Seus familiares e seu patrão o tratavam com desdém e humilhação. Sua vida não tinha sentido, visão, valor ou objetivos maiores. Gregor não conseguiu adequar-se no mundo como um indivíduo, tornando-se então mais um bichinho no meio do enxame. Em suma, "A Metamorfose" fala de forma brilhante acerca da inadequação humana na família, nos relacionamentos e na sociedade.<br />
<br />
Além disso, o livro também é uma espécie de autobiografia de Kafka. Formado em Direito, contra a sua vontade, Kafka trabalhou como advogado e nunca teve um relacionamento sentimental duradouro. Levava uma vida melancólica e vazia, sentindo-se exatamente como nas emoções do inseto de<i> "A Metamorfose"</i>.<br />
<br />
--<br />
<br />
PS: Aconselho também a leitura do seguinte artigo para uma análise mais profunda da obra:<br />
<a href="http://ensaiosobreleitura.blogspot.com.br/2011/12/nao-vou-rastejar-para-o-alto-franz.html">http://ensaiosobreleitura.blogspot.com.br/2011/12/nao-vou-rastejar-para-o-alto-franz.html</a>Rafael Pazhttp://www.blogger.com/profile/16761676388020743663noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-1844567187271394609.post-37512859182050603812013-08-19T07:00:00.001-03:002021-10-22T12:05:30.720-03:00O Banquete<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="http://3.bp.blogspot.com/-bEb2foWEl6I/Ug_A3kpVYnI/AAAAAAAAAhI/6V-6TVIG9bw/s1600/O_BANQUETE_DE_PLATAO_1272156275P.jpg" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="http://3.bp.blogspot.com/-bEb2foWEl6I/Ug_A3kpVYnI/AAAAAAAAAhI/6V-6TVIG9bw/s1600/O_BANQUETE_DE_PLATAO_1272156275P.jpg" /></a></div>
<b>Título Original:</b> <i>Συμπόσιον</i><br />
<b>Autor:</b> Platão<br />
<br />
<i>"Aquilo que, com efeito, deve dirigir toda a vida dos homens, dos que estão prontos a vivê-la nobremente, eis o que nem a estirpe pode incutir tão bem, nem as honras, nem a riqueza, nem nada mais, como o amor."</i><br />
<br />
<i>O Banquete</i> trata-se de um espetacular tratado filosófico do
grande mestre Platão acerca da maior das virtudes: o Amor. Aqui o
filósofo faz uma linda explanação acerca da vida, da natureza, das artes
e dos relacionamentos humanos, e mostra que todas as coisas estão
vinculadas pelo Amor. Profundo e revolucionário, as idéias de Platão contidas nesta obra marcaram profundamente o pensamento religioso e filosófico do ocidente, iluminando um mundo de trevas e superstições com a luz do amor que gera vida, paz e harmonia entre os seres. É possível notar que essas ideias foram posteriormente desenvolvidas por Jesus e pelos primeiros cristãos, que fizeram do amor a base de uma vida santificada.<br />
<br />
<i>"Assim, pois, eu afirmo que o Amor é dos deuses o mais antigo, o mais honrado e o mais poderoso para a aquisição da virtude e da felicidade entre os homens, tanto em sua vida como após sua morte."</i><br />
<br />
A linguagem utilizada no livro é de fácil compreensão se comparado com outros escritos da antiguidade, como os difíceis poemas de Homero. Para passar seus sublimes conceitos, Platão cria um diálogo fictício entre vários filósofos e poetas, dentre eles o seu mentor e maior mestre grego da antiguidade: Sócrates. Como discípulo de Sócrates, Platão também subverte os padrões religiosos de sua época. Exaltando o deus Amor acima de todos os demais, ele corre o risco de sofrer o que seu mestre sofreu: ser julgado e condenado por "ofender os deuses" e "corromper" os jovens, pois Sócrates os influenciava a buscar a "divindade" interior ao invés de consultar os oráculos dos deuses.<br />
<br />
<i>"É mau aquele amante popular, que ama o corpo mais que a alma; pois não é ele constante, por amar um objeto que também não é constante. Com efeito, ao mesmo tempo que cessa o viço do corpo, que era o que ele amava, “alça ele o seu vôo”, sem respeito a muitas palavras e promessas feitas. Ao contrário, o amante do caráter, que é bom, é constante por toda a vida, porque se fundiu com o que é constante."</i><br />
<br />Em suma, é um livro profundo de significado. <i>O Banquete</i> é, de fato, um banquete de sabedoria de um grande mestre que descobriu o melhor alimento com o qual podemos sustentar nossa vida e construir um mundo melhor.
<br />Rafael Pazhttp://www.blogger.com/profile/16761676388020743663noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-1844567187271394609.post-9797529799956329412013-07-01T06:00:00.001-03:002020-11-20T15:28:00.774-03:00Por uma igreja com a cara de Jesus<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="http://2.bp.blogspot.com/-yzp7nOo587o/UcLhzY7CEbI/AAAAAAAAAf8/2SRJHjJHhsQ/s1600/Por-uma-igreja-com-a-cara-de-Jesus-205x300.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="http://2.bp.blogspot.com/-yzp7nOo587o/UcLhzY7CEbI/AAAAAAAAAf8/2SRJHjJHhsQ/s1600/Por-uma-igreja-com-a-cara-de-Jesus-205x300.jpg" /></a></div>
<b>Título Original:</b> <i>Por uma igreja com a cara de Jesus</i><br />
<b>Autor:</b> Leonardo Brito<br />
<br />
Tive o prazer de ler uma cópia autografada deste pequenino porém impactante livro que certamente entrará para minha lista de livros "para se reler pelo menos uma vez por ano". Leonardo Brito, teólogo e pastor protestante, elabora da forma mais clara e objetiva possível os principais pontos nos quais a maioria das igrejas evangélicas atuais se desviaram da simplicidade do Evangelho de Jesus Cristo, tanto na mentalidade quanto nas práticas organizacionais. Sem rodeios, o autor não mede palavras e fala com total franqueza acerca dos sérios problemas encontrados em muitas denominações, que já caducaram em levar pessoas a serem verdadeiros discípulos de Jesus, apesar de conquistarem sucesso quantitativo e financeiro.<br />
<br />
Antes de continuar, reitero o que já expressei em outros artigos sobre livros igualmente polêmicos: este artigo não foi publicado com a intenção de desrespeitar qualquer religião. O autor do <i>H&M</i> respeita a liberdade religiosa e acredita que, se uma doutrina está fazendo de você uma pessoa melhor para com o seu próximo e para com o mundo, continue a segui-la. O que este livro expressa é a discrepância que algumas igrejas (obviamente não todas) estão dos ensinos de Jesus.<br />
<br />
Continuando, a escrita de Brito é leve e fácil e considero leitura obrigatória para todo cristão. Dividido em cinco capítulos, resumidos abaixo, o autor não poderia ter definido melhor os pontos chave nos quais muitas igrejas mudaram o conteúdo da "garrafa", porém mantiveram no rótulo o nome "Evangelho", e distribui (ou vende?) o produto aos milhares de sedentos que nunca conseguem saciar sua sede dentro dos templos:<br />
<br />
<b>Jesus (Simplicidade) x Igreja (Ostentação)</b><br />
<br />
Jesus ordenou a seus discípulos que não adotassem entre si o modelo de governo do mundo, que consiste na exploração e controle sobre os mais humildes. Ele também deu o exemplo, pois, "sendo em forma de Deus, não teve por usurpação ser igual a Deus, mas esvaziou-se a si mesmo, tomando a forma de servo, fazendo-se semelhante aos homens" (Fp. 2:6,7). Porém, o que muitas igrejas praticam com relação às suas finanças é exatamente o oposto.<br />
<br />
É fácil notar que os cargos de liderança em certas igrejas sempre são concedidos aos mais abastados financeiramente, que comandam o jogo de poder sobre as massas que são constrangidas a acatar tudo, senão estarão "sob maldição de rebeldia contra os ungidos do Senhor". É igualmente lastimável que, enquanto pastores possuem gabinetes luxuosos e padrão de vida abastados, o zelador da igreja mal consegue sustentar sua família e depende do falido sistema público de saúde. E quando foi que vimos alguma igreja rica financeiramente ajudar e repartir com igualdade e solidariedade seus recursos com aquelas igrejinhas pobres?<br />
<br />
<b>Jesus (Amor) x Igreja (Intolerância)</b><br />
<br />
O título atribuído a Jesus que mais impressiona, segundo o autor, não é "Senhor", "Salvador" ou "Filho de Deus". Jesus certa vez foi chamado de "amigo de pecadores". Não há nada mais sublime em saber que o Filho de Deus não era um ascético isolado do mundo, vivendo um espiritualismo etéreo, mas Ele era um amigo de pessoas imperfeitas, cheias de seus erros, falhas e vícios, pessoas espontâneas e naturais. Foi com esses que Jesus andou e gastou seu tempo, influenciando-os a amarem uns aos outros, e não catequizando-os a seguirem doutrinas ou regras.<br />
<br />
Infelizmente, muitas igrejas não entendem este lado do Mestre, e acabam sendo intolerantes com membros que descumprem mandamentos morais do sistema. Jesus não colocou Pedro no "banco" e nem em "disciplina" quando este o negou. Ele apenas disse "Se me amas, apascenta minhas ovelhas". Estas igrejas também não conseguem<i> "manter um diálogo franco e cortês com a chamada 'sociedade secular', abordando, com real sensibilidade, seus dramas e crises pessoais"</i>. Mas ao invés disso, vivem<i> "voltadas para si mesma, engastadas com um evangeliquês tosco e clichês batidos"</i>, tentando trazer pessoas para dentro do saleiro e assim contrariando a ordem de Jesus que consiste em dispersar-se pelo mundo para salgá-lo. Muitos evangélicos protestam contra leis para aprovar casamento gay, querendo impor uma teocracia moralista inútil, mas poucos protestam contra as injustiças sociais ou por melhores condições de saúde, segurança e educação. Lastimável!<br />
<br />
<b>Jesus (Liberdade) x Igreja (Legalismo)</b><br />
<br />
Membros de algumas denominações normalmente afirmam que são irmãos de membros de outras, porém no fundo se jactam de não pertencer àquele outro grupo com doutrinas e costumes estranhos aos seus e se sentem superiores e possuidores de uma verdade maior. Além disso, a liderança eclesiástica exerce um poder sobre a congregação que lembra o de pajés, xamãs e sumo-sacerdotes, que se arrogam possuidores de infalibilidade de palavras e ações. Mantém os membros sob rédeas curtíssimas e não admitem críticas ao seu trabalho, e quem ousar fazer isto "estará fora de cobertura espiritual".<br />
<br />
Este tipo de igreja também criou a dicotomia sagrado/secular ou vida espiritual/vida material, sendo que Cristo jamais fez esta distinção. A vida do cristão não é separada por compartimentos. Tudo é espiritual, desde ler a bíblia até jogar futebol, passando por sexo e pela apreciação das artes como música, teatro, cinema, dança e literatura "seculares". Todo este peso de legalismo que certas igrejas impõem sobre suas ovelhas acerca de "pode isso, não pode aquilo" remonta à mentalidade medieval e é um baita retrocesso intelectual que gera pessoas neuróticas e infelizes.<br />
<br />
<b>Jesus (Integridade/Humildade) x Igreja (Imoralidade/orgulho)</b><br />
<br />
Aristóteles já dizia: "somos não aquilo que falamos, mas o que fazemos". As atitudes de muitas igrejas, então, falam por si só o que elas de fato se tornaram. Segundo o autor, <i>"o meio evangélico tornou-se um solo fertilíssimo para o aparecimento de toda sorte de cretinos que vendem a imagem de 'homens de Deus', mas, como insaciáveis sanguessugas, perceberam que montar uma rede de igrejas é um negócio superlucrativo, já que não tem que pagar imposto de renda (entidades religiosas são isentas) e não precisam prestar contas de seus negócios escusos a ninguém, pois às ovelhas não são encaminhados relatórios financeiros, nem balanços contábeis. Resumindo, ninguém sabe quanto e com o que os líderes empregam o dinheiro dos dízimos".</i><br />
<br />
<b>Jesus (Escrituras) x Igreja (Entretenimento)</b><br />
<br />
Muitos cultos evangélicos cada vez mais estão recheados de discursos vazios, onde líderes eufóricos bradam pregações e cânticos que mais servem como um alucinógeno para as multidões que preferem não utilizar o cérebro e são levadas nos mantras de rituais de vitórias, conquistas, revindicações, amarrações, batalhas espirituais, adorações extravagantes e místicas, etc. "Vamos vencer, triunfar, esmagar serpentes, derrubar gigantes, ficar bêbados no Espírito, etc", dizem muitos "pajés" evangélicos. Assim, entorpecidos com tantas mandingas egocêntricas, uma massa de cristãos deixam de refletir acerca das condições existenciais naturais e das graves dificuldades históricas enfrentadas pela nossa população, que deveriam ser enfrentadas com senso crítico e muita consciência de solidariedade, amor, serviços sociais, ajuda mútua, etc. Mas infelizmente, o que importa nestes ambientes é <i>"pular, gritar, dançar e correr na presença do Rei. Puro ópio!"</i><br />
<br />
<i>"O resultado não poderia ser mais devastador. O ambiente que deveria ser marcado pela adoração em Espírito e em verdade, transformou-se num circo de quinta categoria, com direito a animadores vigaristas, equilibristas fraudulentos e um bando de palhaços sem a menor graça. Porém, o mais trágico é que a multidão que assiste a este espetáculo de horror ri de tudo, bate palmas e, no final, ainda grita 'aleluia'".</i><br />
<br />
<b>Conclusão</b><br />
<br />
Em suma, <i>Por uma igreja com a cara de Jesus</i> é um resumo sério e de grande importância acerca de certas práticas absurdas que permeiam o meio evangélico nos dias de hoje. É um grito profético que fala tanto às igrejas históricas quanto às neo-pentecostais, passando pelas pentecostais e pelas comunidades "moderninhas". É uma palavra de exortação que deve ser ouvida urgentemente para que Cristo possa de fato viver em nós e assim gerar cristãos <i>"humildes de espírito, que choram suas fraquezas, mansos, misericordiosos, pacificadores, limpos de coração e famintos e sedentos por justiça".</i><br />
<br />
--<br />
<br />
E você, o que pensa sobre as igrejas evangélicas dos dias de hoje? Acredita que as práticas da maioria delas está de acordo com o Evangelho de Jesus? Escreva nos comentários!Rafael Pazhttp://www.blogger.com/profile/16761676388020743663noreply@blogger.com4tag:blogger.com,1999:blog-1844567187271394609.post-65792488071224521102013-06-24T00:16:00.001-03:002020-11-20T15:27:23.911-03:00Filhos do Éden - Herdeiros de Atlântida<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="http://3.bp.blogspot.com/-d16IHM_2hDE/UbfnGaqzYxI/AAAAAAAAAfY/jvHxT7PYTh0/s1600/filhos-do-eden-capa.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="320" src="http://3.bp.blogspot.com/-d16IHM_2hDE/UbfnGaqzYxI/AAAAAAAAAfY/jvHxT7PYTh0/s320/filhos-do-eden-capa.jpg" width="215" /></a></div>
<b>Título Original: </b><i>Filhos do Éden - Herdeiros de Atlântida</i><br />
<b>Autor: </b>Eduardo Spohr<br />
<br />
Em <i>Filhos do Éden - Herdeiros de Atlântida,</i> Eduardo Spohr lança o leitor em uma nova aventura angelical que se passa no mesmo universo que o seu primeiro livro <i><a href="http://www.heroisemitos.com.br/2012/11/a-batalha-do-apocalipse.html" target="_blank">A Batalha do Apocalipse</a></i>. Enquanto a primeira obra trata-se de uma história fechada envolvendo um anjo renegado vivendo em várias eras desde a criação do mundo até o Apocalipse, <i>Filhos do Éden</i> é o primeiro livro de uma nova saga que aborda o drama pessoal de alguns anjos nos dias atuais, desvendando mistérios que se encaixam como peças de quebra-cabeça no grande universo mitológico criado pelo autor.<br />
<br />
A trama gira em torno de Kaira, um anjo feminino (sim, neste universo anjos tem sexo, mas não o utilizam, rs) materializada como humana, que precisa ser resgatada da Terra por outros alados, pois sofrera uma espécie de amnésia espiritual e não acredita mais que é um anjo. No decorrer da trama surge uma série de intrigas envolvendo a cidade perdida de Atlântida e os três líderes das facções angelicais: <i>Miguel</i>, o líder de todos os anjos que governa ditatorialmente e anseia por destruir a raça humana; <i>Gabriel</i>, o arcanjo que se rebelou contra<i> Miguel</i> e luta pela preservação da vida na Terra;<i> Lúcifer</i>, a Estrela da Manhã que desejou ser maior que Deus e foi condenado às regiões mais hostis das camadas celestiais, o<i> Inferno</i>. Deuses mitológicos também contracenam com os personagens, que neste universo representam espíritos de homens que, de tanto serem idolatrados, acabaram virando deuses, mas em sua maioria foram derrotados pelos anjos nas guerras pelo domínio dos sete céus.<br />
<br />
A aventura fantástica é bem divertida e envolvente, porém menos épica que <i>A Batalha do Apocalipse</i>. No primeiro livro o autor extrai emoção dos grandes acontecimentos históricos da humanidade e de como estes fatos foram influenciados pelos seres alados no decorrer das eras. Já nesta nova saga, os personagens são mais introspectivos e a trama de menor magnitude. Por causa disso e devido a tratar-se de um livro grande, às vezes a narrativa fica um pouco arrastada, sobrando muitas páginas para poucos acontecimentos. Porém vê-se neste segundo livro traços de evolução evidentes na escrita de Spohr. Os trechos de ação são de perfeição cinematográfica, as descrições de cenário muito bem elaboradas e existe um interessante aprofundamento nas emoções dos personagens.<br />
<br />
No fundo, acredito que este tipo de história funcionaria melhor no cinema. No livro, o autor interrompe demais a dinâmica da trama para explicar as "regras" de seu universo. Isso pode cansar algumas pessoas, apesar de não prejudicar o valor da obra. Talvez se ele investisse mais no suspense e mistério envolvendo seus personagens, ao invés de deixar tudo explicadinho, sobraria tempo para tramas mais intricadas. Se a obra for para a telona algum dia, como não haveria tempo para tantas explicações, talvez pudéssemos ver algo mais dinâmico. Da mesma forma como foi em <i>Senhor dos Anéis</i>. Muitas pessoas não conseguiram ler o livro por causa das imensas descrições explicativas de Tolkien, mas assistiram o filme e gostaram. Torçamos para que James Cameron, Christopher Nolan ou J.J. Abrahms faça uma adaptação do universo de Eduardo Spohr!<br />
<br />
Apesar destes pontos de atenção (não considero pontos negativos), a leitura vale muito a pena para quem gosta de ficção fantástica!Rafael Pazhttp://www.blogger.com/profile/16761676388020743663noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-1844567187271394609.post-34076942731922638482013-06-17T00:20:00.001-03:002020-11-20T15:28:26.163-03:00Mitologia Ocidental - Parte III<a href="http://3.bp.blogspot.com/-qLRxY3rPWBA/UQEq8DGtXPI/AAAAAAAAAbU/jaZUYfK-P30/s1600/mascaras3_peq.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; display: inline !important; float: left; line-height: 1.15; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="http://3.bp.blogspot.com/-qLRxY3rPWBA/UQEq8DGtXPI/AAAAAAAAAbU/jaZUYfK-P30/s1600/mascaras3_peq.jpg" /></a><br />
<div dir="ltr" style="line-height: 1.15; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt;">
<span style="background-color: transparent; color: black; font-family: inherit; font-size: 15px; font-variant: normal; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;"><b>Dualismo ético - Zoroastrismo</b></span><br />
<span style="background-color: transparent; color: black; font-family: inherit; font-size: 15px; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: normal; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;"><br /></span>
<span style="background-color: transparent; color: black; font-family: inherit; font-size: 15px; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: normal; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">Por volta do século VII a.C., o mundo estava mergulhado no politeísmo e em religiões cujos deuses “estavam fora do alcance do julgamento ético. Na verdade, estavam fora de todos os pares de opostos: bem e mal, verdadeiro e falso, ser e não-ser, vida e morte.(...) A orientação de tal ordem de pensamento era metafísica, não ética ou racional, mas trans-ética e trans-racional. No Extremo Oriente, por exemplo, (...) o mundo não era para ser reformado, mas apenas conhecido, reverenciado, e suas leis obedecidas.” As leis éticas de Israel estavam a muito esquecidas tanto pelos reis hebreus quanto pelo povo. Assim, o povo escolhido do único Deus Jeová já havia sido totalmente absorvido pela idolatria e costumes pagãos. Tanto que, anos depois, o rei Josias encontra a Lei no Templo e restaura o monoteísmo em Israel como nunca havia sido praticado desde os tempos do profeta Samuel (2 Cr. 35:18). Ou seja, durante cerca de 300 anos, os hebreus estavam desviados de suas Leis éticas, morais e ritualísticas.</span></div>
<span style="font-family: inherit;"><b style="font-weight: normal;"><br /><span style="background-color: transparent; color: black; font-size: 15px; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: normal; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;"></span></b>
</span><br />
<div dir="ltr" style="margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt;">
<div style="line-height: 1.15;">
<span style="font-family: inherit;"><span style="background-color: transparent; color: black; font-size: 15px; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: normal; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">Surge então, na Pérsia, um profeta chamado Zoroastro, anunciando de forma revolucionária uma filosofia que consistia de vários elementos importantes na construção do pensamento judaico, cristão e islâmico posteriores. Zoroastro dissemina na Pérsia e no mundo o monoteísmo, sendo </span><span style="background-color: transparent; color: black; font-size: 15px; font-variant: normal; font-weight: normal; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;"><i>Ahura Mazda</i></span><span style="background-color: transparent; color: black; font-size: 15px; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: normal; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;"> o único Senhor e Criador do Universo. Oposto a Ele, existe </span><span style="background-color: transparent; color: black; font-size: 15px; font-variant: normal; font-weight: normal; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;"><i>Angra Mainyu,</i> que é a personificação da Maldade e Mentira, uma espécie de <i>Satanás</i>. Dentre as diversas doutrinas propagadas pelo profeta persa, estão: o dualismo ético gerador do juízo eterno baseado em fazer ou não boas obras, a imortalidade da alma, a ressurreição dos mortos, juízo final com a aniquilação do Mal (<i>Angra Mainyu</i>) e a restauração do Reino perfeito de<i> Ahura Mazda</i>.</span></span></div>
<div style="line-height: 1.15;">
<span style="background-color: transparent; color: black; font-family: inherit; font-size: 15px; font-variant: normal; font-weight: normal; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;"><br /></span></div>
<span style="font-family: inherit;"><span style="font-size: 15px; line-height: 17px; white-space: pre-wrap;">As doutrinas zoroastrianas se espalharam de tal forma que podemos observar sua influência em muitos fatos importantes da história. Por exemplo, o imperador persa Ciro era um devoto fiel de <i>Ahura Mazda</i> e seguia piamente os preceitos de Zoroastro. Como podemos ler na Bíblia, Ciro, o Grande, é aclamado pelo profeta Isaías como o "ungido do Senhor" (Is. 45:1-4), pois fora benevolente para com os povos cativos e libertou muitos deles, inclusive os judeus, para voltarem para suas terras (Esdras 1:1-7). Ciro acreditava na prática das boas obras, da misericórdia e no amor como forma de salvação, como Zoroastro pregava. </span><span style="font-size: 15px; line-height: 17px; white-space: pre-wrap;"> "A nobreza de seu caráter resplandece", escreve o Prof. Eduard Meyer, "tanto nos escritos dos persas, a quem ele conduziu ao domínio do mundo, como nos dos judeus, que libertou, e dos gregos a quem derrotou".</span></span></div>
<span style="font-family: inherit;"><b style="font-weight: normal;"><br /><span style="background-color: transparent; color: black; font-size: 15px; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: normal; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;"></span></b>
</span><br />
<div dir="ltr" style="margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt;">
<div style="line-height: 1.15;">
<span style="background-color: transparent; color: black; font-family: inherit; font-size: 15px; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: normal; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">Os judeus, durante o cativeiro babilônico, absorveram em suas tradições muitas das doutrinas pregadas por Zoroastro. Mais tarde pode-se ver a criação de dois partidos político-religiosos em Israel: os fariseus e saduceus. Conforme lê-se nos evangelhos, os saduceus eram mais "puritanos" com relação às tradições judaicas e não aceitavam misturas gentílicas. Por isso não acreditavam na ressurreição dos mortos, na imortalidade da alma, no juízo final de vivos e mortos, dentre outras doutrinas que surgiram com Zoroastro, e não com os judeus. Já os fariseus eram mais "liberais" e aceitavam a introdução do pensamento zoroastriano em suas crenças.</span></div>
<div style="line-height: 1.15;">
<span style="font-family: inherit; font-size: 15px; line-height: 17px; white-space: pre-wrap;"><br /></span></div>
<div style="line-height: 1.15;">
<span style="font-family: inherit; font-size: 15px; line-height: 17px; white-space: pre-wrap;">Muitos dos ensinos, princípios e parábolas de Jesus e várias ilustrações do Apocalipse são bem parecidos com aquilo que Zoroastro pregava, principalmente referindo-se à prática das boas obras, boas ações e boas palavras. Parábolas como a do rico e Lázaro (Lc 16:19-31) e a ilustração do julgamento final baseado na caridade para com os pobres e rejeitados (Mt. 25:31-46) parecem ter sido extraídos de textos de Zoroastro. Muitas doutrinas cristãs estudadas nos seminários teológicos até hoje são oriundas do zoroastrismo. Ora, isto não tira a autoridade do Filho de Deus, muito pelo contrário, mostra que Jesus não era um bitolado religioso judeu, mas sim um Homem completo, que compreendia a revelação de Deus em todos os povos e as utilizava para mostrar a grandeza e soberania de um Deus que não está limitado a "cercas" religiosas ou culturais.</span></div>
<div style="line-height: 1.15;">
<span style="background-color: transparent; color: black; font-family: inherit; font-size: 15px; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: normal; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;"> </span></div>
</div>
<span style="font-family: inherit; font-size: 15px; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;"><b>Helenismo</b></span><br />
<span style="font-family: inherit;"><span style="font-size: 15px; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;"><br /></span><span style="font-size: 15px; white-space: pre-wrap;">Vimos na <a href="http://www.heroisemitos.com.br/2013/02/mitologia-ocidental-parte-ii.html" target="_blank">Parte II</a> deste estudo que a Grécia passava, por volta de 400 a.C., por um período de transformações profundas no pensamento coletivo mitológico e filosófico. Os mitos outrora idolatrados passavam agora para a categoria de meras alegorias pelos sábios gregos. Filósofos tentavam exprimir uma redefinição da essência divina, ou "causa última" como chamavam pelo termo </span><i>ἀρχή. </i><span style="font-size: 15px; white-space: pre-wrap;">Tales de Mileto acreditava que a causa última era a "água"; Anaximandro, o "ilimitado"; Anaxímenes, o "ar"; os pitagóricos, o "número". Porém, um século mais tarde, Platão e sua escola abordaram o tema de forma mais sublime, inclusive repetida por Jesus e pelos apóstolos. Platão dizia que a essência divina era o "amor".</span></span><br />
<span style="font-family: inherit;"><span style="font-size: 15px; white-space: pre-wrap;"><br /></span>
<span style="font-size: 15px; white-space: pre-wrap;">"Tem-se argumentado que a mitologia grega degenerou de religião em literatura por causa do sentido sumamente crítico da mente grega, que já se havia voltado contra ela nos séculos VI e V a.C. Com frequência, esse argumento envolve a idéia de que o politeísmo é uma forma inferior de religião, vulnerável à crítica, enquanto o monoteísmo, não. Em consequência, quando a mente grega começou a analisá-lo de modo crítico, o politeísmo foi liquidado. Abriu-se então o caminho para a Verdade Cristã revelada do Deus Único em Três Pessoas, com seu panteão de anjos, contrapanteão de demônios, comunhão de santos, perdão de pecados e ressurreição do corpo. Abriu-se caminho também à presença múltipla (em cada gota consagrada do vinho e pão da Santa Ceia) do Filho de Deus morto e ressuscitado - verdadeiro Deus e verdadeiro Homem -, nascido milagrosamente da Virgem Mãe Maria." [1]</span></span><br />
<span style="font-family: inherit;"><span style="font-size: 15px; white-space: pre-wrap;"><br /></span>
<span style="font-size: 15px; white-space: pre-wrap;">Tanto o monoteísmo hebreu quanto o persa (com exceção de Ciro) tinham como característica marcante o extermínio de tudo aquilo que era considerado impuro dos inimigos (inclusive animais e crianças), pois não havia outro Deus senão o seu próprio. </span><span style="font-size: 15px; white-space: pre-wrap;">Com a chegada de Alexandre, o Grande, no cenário político mundial em 334 a.C., a conquista do Oriente e da Índia, não com destruição mas com o domínio cultural, fizeram com que os deuses gregos influenciassem todas as culturas do mundo. Apesar de os gregos estarem em uma nova fase de pensamento filosófico acerca do divino, "os belos deuses gregos, longe de morrer, sopraram seu alento inspirador por toda a Ásia, despertando novas formas religiosas e estéticas na Índia Maurya, na China Han e no Japão. No Ocidente, despertaram Roma e no sul deram um novo significado aos antiquíssimos cultos da deusa Ísis e seu cônjuge." [1]</span></span><br />
<span style="font-family: inherit;"><span style="font-size: 15px; white-space: pre-wrap;"><br /></span>
<span style="font-size: 15px; white-space: pre-wrap;">Existem três pontos importantes a serem observados quanto à influência grega no mundo: 1) o sincretismo religioso promoveu tolerância e respeito entre diversas culturas, pois os povos dominados por Alexandre identificavam analogias entre seus deuses e os dos gregos; 2) O desenvolvimento da matemática e astronomia fora muito mais proeminente devido às trocas de conhecimento com os sábios do Oriente; 3) Na Índia, a filosofia grega encontrou-se com os<i> iogues</i> jainistas, budistas e bramanistas, dando origem a um saber místico psicossomático que seria o embrião da moderna psicologia de Nietzsche, Freud e Jung.</span></span><br />
<span style="font-family: inherit;"><span style="font-size: 15px; white-space: pre-wrap;"><br /></span>
<span style="font-size: 15px; white-space: pre-wrap;">Além disso, os avanços na ciência promovida no império alexandrino foram inúmeros. Aristarco de Samos (310-230 a.C.) propôs que a Terra e todos os planetas giravam em torno do Sol, contrariando o pensamento geocêntrico que predominou até Copérnico (1473 d.C.)! Erastóstenes de Cirene (275-200 a.C.) mediu a circunferência da Terra com uma imprecisão de apenas 321 quilômetros, e concluiu que se podia navegar da Espanha, na direção oeste, até a Índia. Sugeriu também que o Atlântico estaria dividido por uma massa de terra (América)! Na medicina, Herófilo de Calcedônia (séc. III a.C.) descobria a relação entre o cérebro, a coluna vertebral e os nervos, e Erasístrato de Chíos (séc. III a.C.) reconhecia a diferença entre os nervos motores e sensoriais.</span></span><br />
<span style="font-family: inherit;"><span style="font-size: 15px; white-space: pre-wrap;"><br /></span></span>
<br />
<div style="background-color: white; color: #333333; font-size: 15px; line-height: 20px;">
<b><span style="font-family: inherit;">Referências:</span></b></div>
<div style="background-color: white; color: #333333; font-size: 15px; line-height: 20px;">
<span style="font-family: inherit;">[1] <i>As Máscaras de Deus - Vol. 3 - Mitologia Ocidental</i></span></div>
<span style="font-family: inherit;">
<span style="font-size: 15px; white-space: pre-wrap;">--</span></span><br />
<span style="font-family: inherit;"><span style="font-size: 15px; white-space: pre-wrap;"><br /></span>
<span style="font-size: 15px; white-space: pre-wrap;">Na próxima parte veremos como o cristianismo transformou o mundo utilizando muito do pensamento grego de um lado, porém também lançando mão do antigo pensamento "levantino" conquistador e ditatorial.</span></span>Rafael Pazhttp://www.blogger.com/profile/16761676388020743663noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-1844567187271394609.post-2397902687164384842013-06-03T19:19:00.001-03:002020-11-20T15:28:52.634-03:00Sem Barganhas com Deus<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="http://4.bp.blogspot.com/-3qf4FjbAHYA/UbT4bzXXTII/AAAAAAAAAe4/hd3xCSKbewk/s1600/sembarganhas.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="http://4.bp.blogspot.com/-3qf4FjbAHYA/UbT4bzXXTII/AAAAAAAAAe4/hd3xCSKbewk/s320/sembarganhas.jpg" height="320" width="225" /></a></div>
<b>Título Original:</b> <i>Sem Barganhas com Deus</i><br />
<b>Autor:</b> Caio Fábio D'Araújo Filho<br />
<br />
<br />
O livro <i>"Sem Barganhas com Deus"</i>, de Caio Fábio, é um tratado revolucionário, magistral e subversivo para quebrar conceitos cristãos errados sobre "moral absoluta". O autor confronta a mentalidade religiosa fundamentada no que ele chama de <i>"Teologia Moral de Causa e Efeito"</i>, que busca atribuir a providência ou salvação divina como resultado daquilo que fazemos segundo os padrões morais estabelecidos por uma minoria no passado e adotada pela maioria ao longo dos anos.<br />
<br />
<i>"Ora, antes de haver Moral houve seres Moralistas. Estes são os filhos de Caim e de sua presunção de agradar a Deus por suas próprias obras. Mas fazem isto pela força de coação, e usam o seu poder a fim de impor um comportamento ou fabricar valores que são estabelecidos sobre os demais, e que, depois de um tempo, são aceitos como média, como maioria, como consenso."</i><br />
<i><br /></i>
Caio Fábio revela, através de exemplos como os heróis da Bíblia, que os conceitos morais de certo e errado variam tanto com o decorrer dos séculos que torna-se incoerente associar a prática da Moral com as dicotomias de santidade/pecado, salvação/perdição, benção/maldição. Por exemplo, Abraão, Jacó, Davi, Moisés e outros grandes homens "justos" da Bíblia mataram muita gente e possuíram várias mulheres. Ora, se hoje um homem que mata e tem dez esposas resolvesse abrir uma igreja, quem o reconheceria como homem de Deus? Provavelmente ninguém!<br />
<br />
<i>"A durabilidade da Moral não é longa. Varia de tempos em tempos, mas no tempo em que está vigente, torna-se um valor absoluto da maioria contra as minorias. E esta é a ironia: minorias a impõem sobre uma maioria, e, depois, esse código se volta sobre os milhares de minorias, que, inconscientemente, “assinaram o acordo”. </i><br />
<br />
A <i>"Teologia Moral de Causa e Efeito"</i> busca também justificar de forma lógica que a benção, salvação e prosperidade vem sobre os "justos", segundo os padrões morais estabelecidos no tempo vigente. Enquanto que a maldição, perdição e miséria vem sobre os "maus", ou seja, aqueles que não se enquadram nos conceitos de certo e errado da maioria. Algumas linhas religiosas - que pregam reencarnação ou castas - transferem esta lógica de "causa" e "efeito" para vidas passadas. Porém, o livro de Eclesiastes desconstrói a idéia de "causa" e "efeito" moral:<br />
<br />
<i>"... há justos a quem sucede segundo as obras dos ímpios, e há ímpios a quem sucede segundo as obras dos justos."</i> Ec. 8:14<br />
<i>"Tudo sucede igualmente a todos; o mesmo sucede ao justo e ao ímpio, ao bom e ao puro, como ao impuro; assim ao que sacrifica como ao que não sacrifica; assim ao bom como ao pecador; ao que jura como ao que teme o juramento."</i> Ec. 9:2<br />
<br />
Assim, o conceito de "justo" varia no tempo e lugar. Ser justo, muitas vezes, é viver segundo a "normalidade" temporal do que está estabelecido como certo e errado pela maioria dentro de algum contexto religioso. Esta mentalidade, ao invés de gerar vida, gera a morte, pois escraviza pessoas em normas que normalmente vão contra a naturalidade da vida, levando-as a viverem cheias de culpas e neuroses por não atingirem um padrão "ideal" de santidade. E por outro lado, produz gente soberba e exclusivista, que acham que são "melhores" do que aqueles que não conseguem viver segundo os padrões que tanto idolatram.<br />
<br />
E o que é ser justo de fato? Ser justo consiste em<b> amar e valorizar o ser humano. Esta é a única chave para viver em paz, sendo de fato um justo, ainda que "errado" segundo padrões estabelecidos.</b> Segundo Caio,<i> "não tenho de ser para ninguém nada além daquilo que Deus sabe que eu sou. Isto me ajuda a não ter medo de ser gente". </i>Assim, amar, exercer misericórdia e ajudar o necessitado são as regras de ouro. E nada disso tem a ver com a Moral.<br />
<br />
É interessante frisar que as Leis da sociedade são importantes para o convívio social, já que nem todos (ou a maioria) não entende o que é viver em Amor. Mas leis sociais são diferentes de leis morais. Neste ponto, o autor escreve:<br />
<br />
<i>"A Lei nos proíbe de não permitir o outro ser, desde que a expressão de seu ser não seja contra a liberdade do próximo de também ser. A Lei nos garante que essa liberdade vai apenas até o limite em que sua expressão de ser não violente um outro ser humano. A Moral, todavia, nos impede de ser diferentes da maioria, portanto, mata a expressão do ser."</i><br />
<i><br /></i>Em suma, o livro trata destes assuntos e de outros relacionados, como a famosa dicotomia teológica "Lei x Graça". <br />
<br />
--<br />
<br />
E você, o que pensa sobre estes assuntos? O que você pensa sobre a Moral? E com relação à mentalidade de "causa" e "consequência" moral resultando em benção/maldição? Comente abaixo.Rafael Pazhttp://www.blogger.com/profile/16761676388020743663noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-1844567187271394609.post-62210299652942862132013-02-18T20:18:00.002-03:002020-11-20T15:29:34.623-03:00Mitologia Ocidental - Parte II<a href="http://3.bp.blogspot.com/-qLRxY3rPWBA/UQEq8DGtXPI/AAAAAAAAAbU/jaZUYfK-P30/s1600/mascaras3_peq.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="http://3.bp.blogspot.com/-qLRxY3rPWBA/UQEq8DGtXPI/AAAAAAAAAbU/jaZUYfK-P30/s1600/mascaras3_peq.jpg" /></a><b>A IDADE DOS HERÓIS</b><br />
<br />
No artigo anterior sobre Mitologia Ocidental, baseado no livro <i>“As Máscaras de Deus - Vol. 3 - Mitologia Ocidental”</i>, de Joseph Campbell, vimos que a história de abertura da religião judaica (início do Gênesis bíblico) possui muitas semelhanças com antigos mitos sumérios e, de forma impressionante, também está presente em culturas agrícolas dos trópicos como na África, Índia, Sudeste Asiático, Melanésia, Polinésia, México, Peru e até no Brasil. As principais características destes mitos e ritos são: “1. a serpente; 2. a mulher; 3. o assassinato da serpente, da mulher ou de ambas; 4. o crescimento de plantas comestíveis a partir da cabeça ou do corpo enterrado da vítima; 5. o surgimento da morte e da procriação nessa mesma época; 6. o término, com isso, da era mitológica” [1].<br />
<br />
Campbell sugere que o conto judaico, bem como os demais mitos semelhantes, seria uma forma de sobrepujar as religiões predominantes anteriormente, que veneravam a serpente, a mulher e a mãe Terra. Agora, estes elementos são amaldiçoados pela doutrina da <i>Queda</i>. Outro conto interessante que pode conter traços de dominação cultural é a história de <i>Caim e Abel</i>. Aqui há um pastor de ovelhas que obtém o favor de Deus, enquanto um agricultor não. O agricultor, então, mata o pastor e recebe como maldição uma vida errante sobre a Terra. Os semitas, de onde se originaram os hebreus, eram pastores, e os povos conquistados de Canaã eram agricultores. Logo, é razoável um conto que exemplifique a superioridade do novo povo dominante. É interessante notar que contos semelhantes - da disputa entre um agricultor e um pastor - podem ser encontrados em diversas mitologias antigas, porém, em culturas agrícolas, o agricultor é o herói e o pastor, o vilão. Mas, sendo literal ou não, a história de <i>Caim e Abel</i> é, na verdade, uma profecia mostrando que o sangue do justo sempre será derramado pelo invejoso e ímpio. O cumprimento máximo desta previsão ocorre em Jesus Cristo, morto pelo homens, oferecendo uma oferta melhor a Deus: a sua própria vida.<br />
<br />
Acerca de Moisés, um fato curioso é que o nome deste profeta não é de origem hebraica como muitos imaginam. Ele foi adaptado para o hebraico. Moisés é um nome de origem egípcia e significa “criança”. Vários faráos tiveram nomes com a mesma origem, porém acompanhados de nomes de deuses egípcios, como <i>Ramsés</i> (Ra-moisés), <i>Tutmósis </i>(Tut-moisés) e <i>Amósis</i> (A-moisés). É provável que o povo hebreu, após viver várias gerações como escravos no Egito, tenha absorvido muito de sua cultura e crenças. Além disso, existe uma suposição de que Moisés tenha sido fortemente influenciado pelos conceitos de um faraó chamado <i>Akenaton</i>. Durante seu reinado, <i>Akenaton</i> implantou um culto monoteísta no Império, mas morreu cedo e seus ideais religiosos revolucionários foram abandonados pelo seu sucessor, que entregou novamente o Egito ao politeísmo. Moisés, então, teria juntado este legado com as tradições orais hebraicas para libertar o povo de Israel da escravidão e instituir as bases da fé judaica.<br />
<br />
Enquanto isso, na Grécia, as transformações mitológicas gregas ocorridas neste período - cerca de 1.000 a. C. - , foram fundamentais na construção do pensamento racional, humanista e individualista que predominou durante muitos séculos, influenciando de forma assustadora todo o ocidente e parte do oriente e resultando no que somos hoje como sociedade. Por exemplo, no conto da <a href="http://www.brasilescola.com/filosofia/odisseia-homero.htm" target="_blank"><i>Odisséia</i> de Homero</a>, observa-se a criação do herói cuja realização individual sobrepuja a vontade coletiva. Enquanto os demais integrantes do grupo de <i>Odisseu</i> sempre falhavam e iam morrendo durante a jornada, o herói toma as decisões corretas e consegue retornar são e salvo. Em diversas situações, a libertinagem, a curiosidade e empolgação coletivas geram problemas diversos que somente são solucionados pelas habilidades do herói. Mas é conveniente assinalar que, na situação em que Odisseu se autodenomina <i>“Ninguém”</i> e fere o Cíclope - causando indiferença nos amigos do monstro ao tomarem conhecimento que “ninguém” o havia ferido - constata-se que, apesar do egocentrismo aparente do herói, há provações em que somente a anulação do <i>ego</i>, do nome e de fama pessoal é capaz de proporcionar vitória em uma esfera de forças transpessoais incontroláveis do subconciente.<br />
<br />
Os gregos então, após vitórias militares surpreendentes contra os numerosos persas, passaram por um momento de amadurecimento político jamais visto até o momento. “Eles sentiam-se orgulhosos de ser homens em vez de escravos. De ser os únicos no mundo que tinham aprendido a viver não como servos de um deus <i>(no sentido político, não individual)</i>, obedientes a alguma lei divina invocada, nem como funcionários ajustados a alguma ordem cósmica em eterna rotação; mas como homens com discernimento racional, cujas leis eram votadas, não ‘ouvidas’; cujas artes celebravam a humanidade, não a divindade (pois mesmo os deuses haviam agora se tornado homens) e, consequentemente, em cujas ciências a verdade e não a fantasia começava a aparecer. A constatação de uma ordem cósmica não era interpretada como um modelo para a ordem humana, mas como seu marco ou limite. Tampouco a sociedade era para ser santificada acima dos homens que a constituíam.” [1] [com notas minhas em itálico].<br />
<br />
Nesta época, a ascenção das idéias filosóficas na Grécia sobrepujaram os determinismos religiosos. Muitos filósofos buscavam explicar a origem da vida de diversas formas. Um termo grego muito utilizado por todos eles para explicar o conceito de <i>Deus</i>, ou o <i>Infinito</i> ou a <i>Essência de tudo</i> era <i>ἀρχή</i> (que significa “princípio”). Alguns diziam que o <i>ἀρχή</i> era a água, outros o entendiam como o <i>éter</i>. Pitágoras, por exemplo, tinha um conceito diferente. Para ele, o <i>ἀρχή</i> eram os números, pelos quais a arte, a psicologia, a filosofia, o ritual, a matemática, a música e os esportes seriam reconhecidos como aspectos de uma única ciência da harmonia. “Portanto, finalmente, o conhecimento, e não o êxtase, tornou-se o meio de realização. E os antigos modos do mito e da arte ritualística uniu-se harmoniosamente a aventura alvorecente da ciência grega, para uma nova vida” [1]. Neste momento, a razão e a ciência tornaram-se os novos deuses gregos.<br />
<br />
Não é em vão que o apóstolo Paulo fala <i>"Porque os judeus pedem sinais, e <b>os gregos buscam sabedoria;</b> (...)"</i>, em uma alusão à insaciável sede grega por conhecimento e explicação racionais. Paulo conclui seu pensamento dizendo <i>"(...) mas nós pregamos a Cristo crucificado, certamente escândalo para os judeus, e <b>loucura para os gentios</b>", </i>exemplificando assim que o âmago do Evangelho, a morte de Cristo pelos pecados da humanidade, não se explica racionalmente.<br />
<br />
No próximo artigo veremos como a ciência grega envoluiu de maneira assustadora no decorrer dos últimos 500 anos a.C. a ponto de ser descoberto, nesta época, que a Terra era redonda e girava em torno do Sol, além de sua circunferência ter sido calculada com altíssima precisão. Veremos também como o conceito de<i> ἀρχή </i>(princípio divino) se transformou no <i>amor platônico</i> que, juntamente com a doutrina de um profeta persa chamado <i>Zoroastro</i>, influenciou e determinou os ensinamentos judaico e cristão posteriores.<br />
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<b>Referências:</b></div>
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[1] <i>As Máscaras de Deus - Vol. 3 - Mitologia Ocidental</i><br />
<br />
<i>--</i><br />
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E você, o que acha sobre o início de Gênesis? Acha que a história de Caim e Abel é literal ou simbólica? Ou talvez tenha de fato acontecido, mas de outra forma? Acredita que a filosofia e ciência grega influenciaram a nossa sociedade atual? Comente abaixo:<i><br /></i></div>
Rafael Pazhttp://www.blogger.com/profile/16761676388020743663noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-1844567187271394609.post-22880776480628188352013-02-12T00:07:00.001-02:002020-11-20T15:29:52.153-03:00Mitologia Ocidental - Parte I<a href="http://3.bp.blogspot.com/-qLRxY3rPWBA/UQEq8DGtXPI/AAAAAAAAAbU/jaZUYfK-P30/s1600/mascaras3_peq.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="http://3.bp.blogspot.com/-qLRxY3rPWBA/UQEq8DGtXPI/AAAAAAAAAbU/jaZUYfK-P30/s1600/mascaras3_peq.jpg" /></a><b>Introdução</b><br />
<br />
Tendo em vista a necessidade de se conhecer as origens religiosas e culturais que envolvem a nossa sociedade ocidental atual, venho através deste e em artigos futuros, trazer à luz um conhecimento profundo e interessantíssimo que nem sempre é muito abordado em aulas de história ou nas igrejas. Baseado no livro<i> “As Máscaras de Deus - Vol. 3 - Mitologia Ocidental”</i>, de Joseph Campbell, pretendo esclarecer importantes aspectos históricos que moldaram este lado do mundo em seu racionalismo e individualismo excessivos, bem como explicar de onde nasceram as bases doutrinárias do judaísmo, cristianismo e islamismo.<br />
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<b>PARTE 1 - A Idade da deusa</b><br />
<br />
Existe uma teoria, aceita por muitos paleontólogos e arqueólogos - mas também muito contestada - de que há alguns milhares de anos antes de Moisés e até mesmo de Abraão, houve na Terra um período cujas crenças não eram dominadas por fortes deuses masculinos e nem os homens regiam a ordem social. Na transição pré-histórica entre as eras paleolítica e neolítica (entre dez e quatro mil anos a.C.) havia a chamada Era Matriarcal na região que posteriormente tornara-se a antiga Suméria, a civilização mais antiga de que se tem um conhecimento mais concreto. Desta era remotíssima, evidências arqueológicas mostram que os deuses predominantes eram representados pela figura feminina, já que a mulher era a “geradora de vida” pelo parto. Nesta época, em muitos lugares, as mulheres também exerciam um papel importante na organização social.<br />
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<table cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="float: right; margin-left: 1em; text-align: right;"><tbody>
<tr><td style="text-align: center;"><a href="http://4.bp.blogspot.com/-mRSMM5mxH6k/URlGmbjE8TI/AAAAAAAAAck/xG3EdXXuyzk/s1600/arvore_sumeria.jpg" imageanchor="1" style="clear: right; margin-bottom: 1em; margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" src="http://4.bp.blogspot.com/-mRSMM5mxH6k/URlGmbjE8TI/AAAAAAAAAck/xG3EdXXuyzk/s320/arvore_sumeria.jpg" height="160" width="320" /></a></td></tr>
<tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;"><b>Fig. 1:</b> Selo Sumério: a árvore da vida e do conhecimento,<br />
a serpente, a mulher e o deus eternamente morto e ressuscitado</td></tr>
</tbody></table>
Tendo esta herança matriarcal, muitas crenças da Idade do Bronze (cerca de 3.000 a.C.) tinham como símbolos comuns a mulher como geradora de vida, bem como a serpente e a lua como divindades que representavam os ciclos de nascimento, crescimento, morte e ressurreição. A serpente por causa de sua capacidade de renovar sua pele, “morrendo e ressucitando” e a lua por suas fases, pelas quais se apaga (lua nova) e “ressucita” (minguante e cheia). Em muitas imagens encontradas, pode-se observar também a crença em um jardim de perfeição, onde há uma árvore da vida eterna e guardiões em seus limites (como pode ser observado na figura 1). Resumindo, os elementos essenciais de muitas crenças antigas eram: um jardim perfeito, mulher, serpente, guardião do jardim, fruto da árvore da vida eterna. Qualquer semelhança com o Jardim do Éden bíblico, talvez não seja mera coincidência.<br />
<br />
Com o passar do tempo, uma sucessão de mudanças culturais e sociais nessas civilizações passaram a transformar suas crenças. Pastores nômades árias do Norte e semitas do Sul, passaram a dominar e invadir de modo violento os veneráveis locais de culto do mundo antigo, fazendo com que o racionalismo e força bruta - características masculinas – tomassem lugar da intuitividade feminina, dominante enquanto a humanidade adorava a deusa mãe Terra e vivia principalmente da colheita frutífera. Assim, “contra esse símbolo do poder imortal encontramos o princípio guerreiro da grande façanha do indivíduo que arremessou seu raio, fazendo ceder a antiga ordem de crença, bem como de civilização” [1]. No Ocidente, o princípio do livre-arbítrio, com sua carga moral de responsabilidade individual, estabelece a primeira característica distintiva da mitologia ocidental. Observa-se agora, oposta à ordem matriarcal de sociedade e culto, a ordem Patriarcal, “marcada pelo ardor da eloquência justa e pela fúria do fogo e da espada” [1].<br />
<br />
Na ordem Patriarcal, os deuses masculinos passam a sobrepujar os deuses femininos. Heróis do céu passam a pisar nas serpentes e monstros da Terra. “Quer pensemos nas vitórias de Zeus e Apolo, Teseu e Perseu, Jasão e os demais, sobre os dragões da Idade do Ouro, ou nos voltemos para a de Jeová sobre o Leviatã, a lição é a mesma. A de uma força autopropulsora maior que a do destino de qualquer serpente terrena. (…) Todas são, acima de tudo, um protesto contra a adoração da Terra e os <i>daimones</i> da fertilidade da Terra” [1].<br />
<br />
O ponto de vista Patriarcal veio para separar os pares de opostos – macho e fêmea, vida e morte, verdadeiro e falso, bem e mal – como se fossem absolutos em si mesmos e não apenas aspectos diferentes do todo, como se acreditava antes. Porém, apesar do Patriarcado ter dominado totalmente as formas de culto do Ocidente, resquícios do Matriarcado foram se arrastando ao longo dos séculos, no chamado “mito da mãe do deus morto e ressuscitado”. Tendo diversas representações locais desde 5500 a.C., esta deusa tem “sobrevivido” nas crenças de diversos povos, seja como Mãe dos deuses pelos frígios, Minerva pelos atenienses, Vênus pelos ciprianos, Diana pelos cretenses, Prosépina pelos sicilianos e Ceres pelos nativos de Elêusis. Para alguns, Juno, para outros, Belona, Hécate ou Ramnúsia. Mas seu nome mais conhecido na antiguidade era Rainha Ísis e na atualidade, Virgem Maria.<br />
<br />
A evolução da ordem Patriarcal culminou também na separação impressionante das mentalidades Ocidental e Oriental. “No espírito europeu a força estruturadora nutre-se da longa formação de suas raças nas atividades da caça e, consequentemente, das virtudes do julgamento individual e da excelência independente. Ao contrário, no mais jovem porém culturalmente muito mais complexo Oriente Próximo, as virtudes da vida grupal e a submissão à autoridade foram os ideais incutidos no indivíduo que, em tal mundo, não é na verdade nenhum indivíduo – no sentido europeu – mas o componente de um grupo. E por toda a história conturbada da interação desses dois mundos culturais em seus movimentos pendulares alternados, o conflito insolúvel dos princípios do indivíduo paleolítico e do santificado grupo neolítico criou e manteve até hoje a situação tanto de reciprocidade criativa quanto de menosprezo mútuo” [1].<br />
<br />
Um fator interessante relacionado às mitologias primitivas, é o quanto o judaísmo e o cristianismo foram por elas influenciados. Segue abaixo alguns exemplos desta possível influência:<br />
<ul>
<li>Este relato sobre a ilha-paraíso suméria, Dilmun, no meio do mar primevo, de 2050 a.C., assemelha-se à profecia bíblica sobre o reinado do Messias na Terra.</li>
<ul>
<li><i>“O leão não mata, o lobo não devora o cordeiro... A mulher de idade não diz: sou uma mulher de idade, O homem de idade não diz: sou um homem de idade.”</i><span style="font-size: x-small;"> (Relato sumério)</span></li>
<li><i>"E morará o lobo com o cordeiro, e o leopardo com o cabrito se deitará, e o bezerro, e o filho de leão e o animal cevado andarão juntos, e um menino pequeno os guiará”</i><span style="font-size: x-small;"> (Isaías 11:6)</span></li>
</ul>
</ul>
<ul>
<li>Descrição de um antigo mito sumério, com seus paralelos bíblicos:</li>
<ul>
<li>“O céu (<i>An</i>) e a terra (<i>Ki</i>) eram no princípio uma única montanha indivisa (<i>Anki</i>), da qual a parte inferior, a terra, era feminina, e a superior, o céu, masculina. Mas os dois foram divididos (como Adão, dividido em Adão e Eva) por seu filho<i> Enlil</i> (na Bíblia, pelo criador Jeová), quando surgiu o mundo da temporalidade (como ocorreu quando Eva comeu a maçã).” [1]</li>
</ul>
</ul>
<ul>
<li>Na mitologia da antiga babilônia, onde o senhor<i> Marduk</i>, filho do grande deus <i>Ea</i>, derrota a monstruosa <i>Tiamat</i> e seus demônios, tem-se paralelos incríveis com a doutrina da criação bíblica:</li>
<ul>
<li>O nome da mãe-monstro babilônica<i> ti'amat</i>, está etimologicamente relacionado ao termo hebraico<i> tehom</i>, “o profundo”, do segundo versículo de Gênesis. Assim como o vento de <i>Anu</i> (no conto mitológico) soprou sobre o Abismo, e o de <i>Marduk</i> sobre a face de<i> Tiamat</i>, também no Gênesis 1:2, “um vento [ou espírito] de Elohim pairou [ou soprou] sobre as águas”. Por outro lado, quando <i>Marduk</i> estendeu a metade superior do corpo materno como um teto, com as águas do céu sobre este teto, também em Gênesis 1:17, “Elohim fez o firmamento, que separou as águas que estão sob o firmamento das águas que estão acima”; e ainda, como <i>Ea</i> venceu<i> Apsu</i> e<i> Marduk</i> venceu<i> Tiamat</i>, também Jeová venceu os monstros marinhos Raab (Jó 26:12,13) e Leviatã (Jó 41; Salmo 74:14).</li>
</ul>
</ul>
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<b>Conclusão</b></div>
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<br /></div>
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Neste primeiro artigo vimos as transformações nas civilizações primitivas que supostamente influenciaram a origem de crenças ocidentais posteriores. É muito interessante saber que o antigo e difundido mito do "deus nascido de uma virgem, eternamente morto e ressuscitado" está presente em diversas crenças da antiguidade e não somente no Cristianismo.</div>
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<br /></div>
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<b>Referências:</b></div>
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[1] <i>As Máscaras de Deus - Vol. 3 - Mitologia Ocidental</i></div>
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<i><br /></i></div>
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<br /></div>
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E você, acredita que houve uma era Matriarcal? Acredita que algumas histórias da Bíblia podem ser evoluções de antigas crenças sumérias, ou não? Deixe abaixo seus comentários:</div>
Rafael Pazhttp://www.blogger.com/profile/16761676388020743663noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-1844567187271394609.post-27786238011063160552013-01-28T07:00:00.000-02:002017-08-08T00:11:06.395-03:00O Analista<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="http://1.bp.blogspot.com/-Gs0uoFqMKTE/UPBJ9s1x_DI/AAAAAAAAAZM/V0y6KxzOeyM/s1600/oanalista.jpeg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"></a></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="http://2.bp.blogspot.com/-5XQIoGzZKck/UQFb8AogMAI/AAAAAAAAAbs/bWD2gLBp2lk/s1600/oanalista3.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"></a></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="http://1.bp.blogspot.com/-WqR5PUdkm8c/UQFcRS7wZhI/AAAAAAAAAb0/lIfyVoRlVBo/s1600/oanalista_ok.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="http://1.bp.blogspot.com/-WqR5PUdkm8c/UQFcRS7wZhI/AAAAAAAAAb0/lIfyVoRlVBo/s1600/oanalista_ok.jpg" /></a></div>
<b>Título Original:</b> <i>The Analyst</i> <br />
<b>Autor:</b> John Katzenbach<br />
<br />
<i>"Sempre há pessoas que se sacrificam para que outras pessoas possam viver. Soldados em combate. Bombeiros em um prédio em chamas. Policiais nas ruas. A sua vida é tão adorável e produtiva e tão importante que possamos automaticamente admitir que ela seja mais valiosa do que a vida que ela poderia salvar?</i>"<br />
<span style="font-size: x-small;">(Extraído de <i>O Analista</i>)</span><br />
<br />
Existem livros ruins, e chegar até a metade deles já é um grande feito. Existem livros bons. Estes, indicamos reativamente, ou seja, quando somos questionados sobre eles ou em alguma conversa ocasional sobre o assunto que lembre a obra. Porém, existe uma outra categoria de livros, que se encontra bem acima daqueles considerados bons. Existem os livros que nos marcam profundamente. Estes, indicamos proativamente, como se fosse obrigação a sua leitura. São histórias que levam o leitor a viver a vida dos personagens de forma tão intensa que, quando terminado, ele respira como se tivesse perdido o fôlego durante toda a sua leitura. <i>O Analista</i>, de John Katzenbach, se enquadra nesta categoria... a categoria de livro perfeito.<br />
<br />
Nesta obra-prima do suspense psicológico, Katzenbach constrói um complexo e empolgante<i> thriller</i> moderno com uma narrativa dinâmica e repleta de tensão, muitos climax, personagens profundamente cativantes e assustadores e reviravoltas inacreditáveis. Tudo isto é orquestrado em perfeita harmonia na composição de uma trama muito bem estruturada, sem pontas soltas e com um ritmo que não perde a cadência em nenhum momento.<br />
<br />
O livro conta a história de Frederick Starks, um psicanalista experiente, que, ao completar 53 anos, recebe uma misteriosa carta com os dizeres: "Feliz aniversário de cinquenta e três anos, doutor. Bem-vindo ao primeiro dia de sua morte". Ainda na carta, dr. Starks é ameaçado por alguém que diz "pertencer ao seu passado" e o desafia a se matar ou a descobrir a identidade de seu algoz. Caso contrário, uma lista de 53 nomes de parentes do médico seria alvo de destruição, tanto psicológica quanto física.<br />
<br />
O autor se revela um mestre do suspense ao levar o leitor a montar um tenebroso quebra-cabeças psicológico, onde o protagonista deve usar de seus conhecimentos de psicanálise para tentar descobrir quem o está ameaçando. Assim, ele entra em uma perigosa investigação para desencavar de seu passado o motivo que levou este psicótico a odiá-lo e desejar a sua morte. Em meio ao caos de muita tensão e acontecimentos aterradores, o personagem principal é conduzido a um verdadeiro inferno psicossomático, interagindo com personagens marcantes em sua profundidade emocional.<br />
<br />
É fascinante o fato de uma trama tão complexa, envolvendo inúmeros personagens e lugares, do passado e do presente, ser tão bem amarrada e extremamente verossímil. O elemento surpresa está presente a todo instante, fazendo o leitor se
surpreender a cada página, gerando uma ansiedade adrenalínica acerca da
misteriosa identidade do vilão, principalmente depois da primeira
metade, onde a história sofre uma reviravolta alucinante.<br />
<br />
Além de ser emocionante do ponto de vista ficcional, o livro passa ainda uma interessante mensagem sobre as consequências catastróficas que nosso estilo de vida egocêntrico podem gerar no futuro.<br />
<br />
Leitura obrigatória!Rafael Pazhttp://www.blogger.com/profile/16761676388020743663noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-1844567187271394609.post-3952475678263372732013-01-21T07:00:00.001-02:002020-11-20T15:30:12.485-03:00As Crônicas de Nárnia<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="http://1.bp.blogspot.com/-HMIgyj_41FI/UOXn7BiY80I/AAAAAAAAAYo/ldEZlV6pUbU/s1600/narnia.jpeg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"></a></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
</div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="http://2.bp.blogspot.com/-6tXqrzyuWDs/UPCJnYi5LgI/AAAAAAAAAac/zr3RvrExjto/s1600/narnia2.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="http://2.bp.blogspot.com/-6tXqrzyuWDs/UPCJnYi5LgI/AAAAAAAAAac/zr3RvrExjto/s320/narnia2.jpg" height="320" width="213" /></a></div>
<b>Título Original: </b><i>The Chronicles of Narnia</i><br />
<b>Autor: </b>C. S. Lewis<br />
<br />
<i>"Oh, Filhos de Adão, com que esperteza vocês se defendem daquilo que lhes pode fazer o bem!"</i> <span style="font-size: x-small;">Aslan</span><br />
<br />
Um grande clássico da literatura fantástica infantil, <i>As Crônicas de Nárnia</i> são uma série de livros sobre um universo paralelo, para onde crianças de nosso mundo viajam, vivendo excitantes e divertidas aventuras com anões, fadas, faunos, animais falantes, feiticeiras, gigantes e dragões. Porém, a obra não se resume somente a isto. Em meio a todo este vasto universo mitológico, C. S. Lewis consegue com genialidade permear as histórias com muita sabedoria, filosofia e princípios morais, sem parecer chato ou religioso.<br />
<br />
<br />
<br />
São sete pequenos livros:<br />
<i>1 - O Sobrinho do Mago<br />2 - O Leão, a Feiticeira e o Guarda-Roupa<br />3 - O Cavalo e seu Menino</i><br />
<i>4 - Príncipe Caspian</i><br />
<i>5 - A Viagem do Peregrino da Alvorada</i><br />
<i>6 - A Cadeira de Prata</i><br />
<i>7 - A Última Batalha</i><br />
<br />
No primeiro livro (<i>O Sobrinho do Mago</i>), Lewis conta a origem de um mundo mágico, com um país chamado Nárnia, criado pela canção de um Leão falante e sábio chamado Aslan. Sua canção gera vida e faz surgir milhares de seres estranhos, como faunos, centauros, animais que falam, sereias, etc. Através de um anel mágico, um menino na Inglaterra consegue entrar neste mundo, causando problemas e vivendo perigosas aventuras junto com uma amiga e seu tio, um mago. É muito interessante conhecer as origens de determinados elementos e de personagens presentes nas histórias seguintes, como o poste misterioso no meio da floresta, a feiticeira branca e o armário mágico.<br />
<br />
A partir do segundo livro em diante, o autor elabora diversas aventuras independentes, porém todas interligadas por personagens e situações comuns e de vital importância no conjunto total da obra. Todas estas tramas divertem bastante, com muita correria, perigos, guerras, magia, traição, romance e lições de coragem, amizade e fidelidade. Os diálogos entre os animais falantes são muito engraçados, mostrando um interessante "preconceito" dos animais para com os homens, devido às diferenças de costumes entre as raças. Este "preconceito", na verdade, é uma sutil crítica de Lewis para com aqueles que não compreendem a cultura ou o comportamento de pessoas que vivem em um contexto diferente do nosso.<br />
<br />
Um alerta importante para os que pretendem se aventurar em Nárnia com estes livros é o fato de serem histórias bem infantis. Talvez isso incomode os leitores adultos e acostumados com uma literatura mais madura. Diferentemente dos livros de Tolkien, que se adaptam facilmente a todas as idades, <i>As Crônicas de Nárnia </i>são uma experiência maravilhosa para os pequenos, mas é provável que poucos adultos se empolguem com essa leitura. Como C. S. Lewis era um religioso protestante, a obra é permeada de mensagens cristãs subliminares, como esta, por exemplo:<br />
<br />
<i>"– Vejam só, companheiros: antes que o mundo limpo e novo que lhes dei tivesse sete horas de vida, a força do Mal já o invadiu; despertada e trazida até aqui por este Filho de Adão.(...)<br />– Mas não se deixem abater. O mal virá desse mal, mas temos ainda uma longa jornada, e cuidarei para que o pior caia em cima de mim. Por enquanto, providenciemos para que, por muitas centenas de anos, seja esta uma terra de júbilo em um mundo jubiloso. E, como a raça de Adão trouxe a ferida, que a raça de Adão trabalhe para saná-la."</i><br />
<br />
--<br />
<br />
E você, já leu os livros? Conte sua experiência!Rafael Pazhttp://www.blogger.com/profile/16761676388020743663noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-1844567187271394609.post-4762032884015949722013-01-07T07:00:00.001-02:002020-11-20T15:30:37.071-03:001984<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="http://1.bp.blogspot.com/-cF5WnB0OKTc/UNxpF26AkQI/AAAAAAAAAXE/OqmGmcisfm8/s1600/livro-1984-george-orwell_MLB-F-3428268054_112012.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="http://1.bp.blogspot.com/-cF5WnB0OKTc/UNxpF26AkQI/AAAAAAAAAXE/OqmGmcisfm8/s320/livro-1984-george-orwell_MLB-F-3428268054_112012.jpg" height="320" width="206" /></a></div>
<b>Título Original:</b> <i>1984</i><br />
<b>Autor:</b> George Orwell <span style="font-size: x-small;">(1903 - 1950)</span><br />
<br />
<i>"Quem controla o passado controla o futuro; quem controla o presente controla o passado."</i> <br />
<br />
Talvez um dos livros mais importantes do século XX e muito mais do que uma ficção política futurista, <i>1984</i> é uma séria advertência contra toda e qualquer forma de sistema de manipulação de massas, seja de caráter político, religioso ou científico. Escrito em 1944, o que deveria ser apenas uma crítica ao sistema comunista russo da época, tornou-se uma obra-prima atemporal, que instiga o leitor a refletir acerca da sociedade em que vivemos. Manipulação do pensamento, guerras eternas, inimigos fictícios e o controle da informação são alguns dos assuntos tratados nesta impressionante história profética, que ilustra ludicamente fatos que assustadoramente tem acontecido nos últimos 60 anos da história da humanidade.<br />
<br />
A história se passa em um futuro <i>distópico</i>, no ano de 1984, no país chamado Oceania, em que um governo totalitário controla todas as ações e pensamentos de seus cidadãos através de teletelas (televisores com câmeras e microfones) instaladas por todos os cantos. O misterioso líder deste governo, o Grande Irmão, é o "olho que tudo vê", e castiga de forma brutal todo aquele que manifestar qualquer pequeno sinal de desvio de conduta contra o seu Partido. Esses cidadãos, por sua vez, amam o Grande Irmão e o Partido, fanaticamente. Winston, um funcionário do governo que trabalha no Ministério da Verdade, cuja função é manipular as notícias e recriar a história conforme os interesses do Partido, resolve se rebelar contra o sistema com a ajuda de uma amiga, e descobre que terá que lutar contra algo muito mais poderoso do que poderia imaginar.<br />
<br />
A data que o autor sugeriu para este futuro, em 1984, torna-se irrelevante para nós hoje e a trama em si é muito simples, apesar de possuir boas doses de suspense. Mas o melhor do livro é o cenário em que a história se passa e sua mensagem, extramamente atual, pode ser aplicada a toda e qualquer espécie de ideologia social, política, religiosa, filosófica ou científica. No livro, o Partido dominante governa baseado não pela força, mas na operação estratégica de "conversão" a uma forma de pensar dúbia, chamada <i>duplipensamento</i>. Segundo esta técnica de logro mental, as pessoas passam a acreditar em conceitos contraditórios ao mesmo tempo. Elas perdem a noção do certo e do errado, e passam a assumir como certo aquilo que o Partido diz ser certo. Este, por sua vez, constantemente adultera a história do país - excluindo e incluindo fatos em livros e jornais, criando e eliminando personagens, reais ou fictícios -, enquanto os cidadãos vivem uma espécie de amnésia oficial, acreditando e duvidando ao mesmo tempo. <br />
<br />
Outro fator importante abordado no livro é a forma com que o Partido canaliza o ódio e revolta das pessoas para guerras sem fim e inimigos fictícios, distraindo as pessoas para que não se revoltem contra o Partido. O Partido estimula os cidadãos contra um determinado cidadão, <i>Emmanuel Goldstein</i>, que representa o grande inimigo da lei e da ordem. Não se sabe se ele realmente existe ou não. O que importa é gerar um frenesi de ódio contra ele e fazer com que as pessoas tenham um inimigo em quem colocar a culpa de todos os males.<br />
<br />
A todo instante vemos governos e igrejas fazendo a mesma coisa em nosso mundo. <i>Vietnamitas, Sadan Hussein e Osama Bin Laden</i> são alguns exemplos de inimigos "criados" pelo governo norte-americano, com a finalidade de distrair a população, que por sua vez não busca o conhecimento verdadeiro dos fatos históricos, mas acreditam cegamente no que o Grande Irmão "Tio Sam" fala. Estude a fundo sobre <i>Guerra do Vietnan, Guerra do Golfo</i> e sobre <i>Bin Laden</i> e verá que os conceitos de "amigo" ou "inimigo" são relativos dependendo dos interesses de quem manda. Já no âmbito religioso, existem outras formas de se criar "inimigos". Por exemplo, muitos culpam o <i>Diabo</i> ou o <i>Carma</i> pelas desgraças de sua vida, quando na verdade o que falta é coragem para assumir seus erros ou enfrentar os desafios e provações concernentes a todo ser humano.<br />
<br />
Em suma, <i>1984</i> é leitura obrigatória a todo aquele que não deseja ser mera massa de manobra, para aqueles que buscam ser pessoas autênticas, que anseiam por expressar sua opinião ainda que ela seja diferente da opinião de todos, para aqueles que não se contentam com verdades absolutas sem uma averiguação mais profunda e para aqueles que odeiam a Mídia repleta de parcialidade e controlada por interesses políticos. Este livro é para quem deseja agir de forma não convencional e ir na contra-mão do sistema, visando a verdadeira liberdade de espírito.<br />
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Se você ainda não leu o livro, aconselho a colocá-lo no topo de sua
lista de leitura. É de fato uma obra muito importante, que merece uma
atenção especial.<br />
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O que você pensa sobre a manipulação de massas pela Mídia, políticos e igrejas? Acredita que isso acontece em nosso país (Brasil)? Comente sobre estes assuntos abaixo!Rafael Pazhttp://www.blogger.com/profile/16761676388020743663noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-1844567187271394609.post-26261393745036225962012-12-31T07:00:00.001-02:002020-11-20T15:30:58.203-03:00O Mestre do Amor<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="http://4.bp.blogspot.com/-zWIbK8rmMyA/UNjM4hEES5I/AAAAAAAAAWs/d37XG4D0ksA/s1600/mestre_do_amor.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="http://4.bp.blogspot.com/-zWIbK8rmMyA/UNjM4hEES5I/AAAAAAAAAWs/d37XG4D0ksA/s320/mestre_do_amor.jpg" height="320" width="217" /></a></div>
<b>Título Original:</b> <i>O Mestre do Amor</i><br />
<b>Autor:</b> Augusto Cury<br />
<br />
<i>"A maior vingança contra um inimigo é perdoá-lo"</i> <span style="font-size: x-small;">Augusto Cury</span><br />
<br />
Neste livreto sobre os ensinos de amor de Jesus, Augusto Cury leva o leitor a uma deliciosa viagem pelos misteriosos caminhos dos sentimentos deste personagem mitológico em suas últimas horas de vida na cruz. A análise racional e psiquiátrica do autor revela como Jesus superou todos os ataques à sua saúde mental e espiritual, perdoou seus ofensores, levou seus ouvintes à plena liberdade e foi capaz de moldar o caráter de homens rudes, segundo os contos dos Evangelhos - fictícios, porém cheios de bons exemplos.<br />
<br />
Falar sobre Jesus Cristo sem o viés religioso da fé é algo que poucos cientistas se atrevem a fazer. Augusto Cury - médico, psiquiatra e psicoterapeuta - se lança neste terreno inexplorado e consegue, com admirável habilidade, analisar a mente do Mito Jesus sem as bases absolutistas que as religiões impõem para passar suas idéias. Um dos poucos racionalistas famosos da atualidade que ainda acredita em Deus - total contradição, aff - Cury destaca nesta obra os detalhes das ações, emoções e pensamentos de Jesus. Ele mostra que, mesmo tendo todos os motivos para ser uma pessoa mal-resolvida emocionalmente, ele venceu, através do amor, todos os potenciais traumas que fariam dele mais um pobre cidadão oprimido, como muitos em seu tempo.<br />
<br />
Segundo Cury - que é um especialista em fenômenos neurológicos - qualquer pessoa submetida a tortura e sofrimento perde sua razão e passa a agir agressivamente como um animal. Relatos históricos acerca de criminosos crucificados mostram que estes ficavam se contorcendo freneticamente na cruz como loucos, ansiando sair daquele sofrimento. O que Jesus fala no ápice de sua dor - <i>"Pai, perdoa-lhes, porque não sabem o que fazem"</i> - revela que o perdão não deve ter limites. Além disso, chegou a rejeitar um anestésico que os romanos davam para aliviar a dor dos condenados. Segundo o autor, Jesus <i>"não queria perder a consciência em nenhum momento do seu martírio. Queria viver as aflições humanas até o final."</i>.<br />
<br />
Alguns acreditam que a melhor forma de educar e organizar um grupo social é através do controle ditatorial. A história nos mostra que este método não funciona, mas muitos insistem em impor suas regras rígidas em seus lares ou sobre seus subordinados no trabalho, achando que estão cumprindo com seu dever. Os fariseus também acreditavam que estavam servindo a Deus crucificando Jesus. Este porém, em contraste com o legalismo religioso baseado em Moisés, ensinava as pessoas a serem livres, atuando no funcionamento da mente. Ele sabia que <i>"o amor é a maior fonte de motivação e de transformação interior".</i> Jesus constantemente instigava seus ouvintes à dúvida, respondendo com perguntas, levando-os a questionar e refletir. Frases como <i>"Quem não tem pecado, atire a primeira pedra" </i><span style="font-size: x-small;">(Jo 8:7)</span><i> </i>ou<i> "De quem é esta efígie e esta inscrição?" </i><span style="font-size: x-small;">(Mt 22:20)</span> mostram que Jesus não ensinava baseado em leis absolutistas, mas sim, na liberdade do pensamento, baseado no amor.<br />
<br />
E por fim, Jesus investiu seu tempo em <i>"trabalhar pessoas difíceis, para mostrar que vale a pena investir no ser humano"</i>. Muitas vezes não compreendemos porque temos que lidar com pessoas tão difíceis em nosso lar, trabalho ou escola. Jesus pegou escórias da sociedade e os transformou em mestres na arte de amar. Segundo o autor, <i>"[Jesus] conduziu-os a despir suas máscaras sociais e a descobrir que a felicidade não está nos aplausos da multidão nem no exercício do poder, mas nas avenidas da emoção e nas vielas do espírito"</i>.<br />
<br />
--<br />
<br />
E você, o que pensa sobre as lições de amor deste personagem mitológico do cristianismo? Deixe nos comentários sua opinião...Rafael Pazhttp://www.blogger.com/profile/16761676388020743663noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-1844567187271394609.post-23824875301173451132012-12-24T18:00:00.001-02:002020-11-20T15:31:11.586-03:00O morro dos ventos uivantes<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="http://2.bp.blogspot.com/-zZ5T50vo1EA/UNLlXkvuyjI/AAAAAAAAAWY/Le_6a5Vdk2w/s1600/morro.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="320" src="http://2.bp.blogspot.com/-zZ5T50vo1EA/UNLlXkvuyjI/AAAAAAAAAWY/Le_6a5Vdk2w/s320/morro.jpg" width="240" /></a></div>
<b>Título Original:</b> <i>Wuthering Heights</i><br />
<b>Autor:</b> Emily Brontë <span style="font-size: x-small;">(1918 - 1948)</span><br />
<br />
Nesta obra prima da literatura inglesa do século XIX temos um complexo, indigesto e conturbado romance. Forte e violento, macabro e doentio. É difícil até mesmo escrever uma resenha sobre ele, pois seu gênero varia de romance a terror psicológico, de drama melancólico a suspense sobrenatural. Um livro peculiar, que, ou o leitor ama, ou odeia. Único livro escrito por Emily Brontë - que morrera de tuberculose aos trinta anos -, foi mal compreendido na época de seu lançamento, mas reverenciado, anos depois, como uma das melhores novelas já feitas na história da literatura.<br />
<br />
Toda a história se passa no interior da Inglaterra, por volta do ano 1800, em duas granjas vizinhas isoladas da cidade. Seus moradores - as famílias Earnshaw e Linton - viviam com certa tranquilidade até que um dia, o Sr. Earnshaw viaja para cidade e traz consigo uma criança estranha que mendigava pelas ruas. O menino, chamado Heathcliff, tinha origem e sobrenome desconhecidos. Sua adaptação a esta nova família acaba sendo muito conturbada e, conforme ele crescia, a vida tranquila nestas fazendas nunca mais seria a mesma.<br />
<br />
Para as meninas que gostam de romances melosos, esse livro não é para vocês. A autora elabora com maestria uma linha do tempo, contando a história de duas gerações de duas famílias que são confrontadas com seu próprio orgulho, egoísmo e preconceito e saem de um pseudo-paraíso para o inferno ao longo de suas vidas. Esta é uma história de ódio, vingança e sofrimento. Chega a ser depressivo em alguns momentos e, após concluir a leitura, o leitor precisa de um tempo - dias ou semanas - para meditar na mensagem que ela passa sobre egocentrismo e suas consequências.<br />
<br />
Emily Brontë foi soberba na escrita, que, apesar de densa, não chega a cansar e prende o leitor pela descrição arrebatadora de ambientes e intensidade dos personagens. Um deles destaca-se pela sua chocante malignidade. Este sujeito gera nojo e repulsa no leitor durante quase todo o livro. Ele é a personificação da pura maldade e perversidade. Suas atitudes vingativas e o terror psicológico imposto em suas vítimas são tão diabólicos que fazem com que <i>Darth Vader</i> ou <i>Hannibal Lecter</i> pareçam anjinhos perto dele. Para escritores que estejam em busca de referências criativas para construir um autêntico vilão em suas histórias, de dar calafrios na espinha, recomendo fortemente este livro.<br />
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--<br />
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E você, já leu este livro? Gostaria de saber sua opinião. Você odiou ou amou? Demorou muito para digerir, ou vomitou? Deixe nos comentários o seu parecer!Rafael Pazhttp://www.blogger.com/profile/16761676388020743663noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-1844567187271394609.post-45721608129446715172012-12-17T08:33:00.002-02:002020-11-20T15:31:56.396-03:00O livro de Ouro da Mitologia<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="http://3.bp.blogspot.com/-PL5e17FFfxo/UM4_S3KEc5I/AAAAAAAAAV0/MFe4QpalplU/s1600/o-livro-de-ouro-da-mitologia.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="http://3.bp.blogspot.com/-PL5e17FFfxo/UM4_S3KEc5I/AAAAAAAAAV0/MFe4QpalplU/s320/o-livro-de-ouro-da-mitologia.jpg" height="320" width="226" /></a></div>
<b>Título Original:</b> <i>The Age of Fable</i><br />
<b>Autor:</b> Thomas Bulfinch <span style="font-size: x-small;">(1796 - 1867)</span><br />
<br />
Nesta excelente compilação das mitologias antigas, Thomas Bulfinch desmistifica para o grande público aquilo que por muito tempo ficou obscurecido em difíceis poesias nas bibliotecas de universidades. A obra aborda, em sua maior parte, os contos dos deuses, semi-deuses e heróis gregos, de onde a cultura ocidental moderna herdou sua essência. Dentre as inúmeras histórias fantásticas, destacam-se lendas que expressam a personalidade humana, outras que explicam a origem dos elementos da natureza e também as grandes jornadas de Heróis que influenciaram artistas desde a antiguidade até hoje. Ao final, o autor conta ainda as principais histórias das mitologias oriental e nórdica, além de tentar explicar estas fábulas sob vários pontos de vista, inclusive o bíblico.<br />
<br />
A cultura ocidental moderna tem como fundamento duas vertentes de pensamento que tem moldado a vida de milhões de pessoas ao longo dos últimos dois mil anos. A primeira delas é a <i>religiosa</i> e é constituída principalmente pelo zoroastrismo*, judaísmo, cristianismo e islamismo. A segunda vertente é a <i>humanista</i> e tem sua essência nas mitologias grega, romana, celta e germânica. A revolução da psicologia, o Iluminismo e a Renascença pós Idade Média buscou explicar o comportamento humano analisando as curiosas e incríveis histórias mitológicas da antiguidade.<br />
<br />
<table cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="float: right; margin-left: 1em; text-align: right;"><tbody>
<tr><td style="text-align: center;"><a href="http://3.bp.blogspot.com/-uoZa6bmPIiA/UM4_VzjGImI/AAAAAAAAAV8/hHNNOGkKkiI/s1600/7959130_WVntD.jpeg" imageanchor="1" style="clear: right; margin-bottom: 1em; margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" src="http://3.bp.blogspot.com/-uoZa6bmPIiA/UM4_VzjGImI/AAAAAAAAAV8/hHNNOGkKkiI/s200/7959130_WVntD.jpeg" height="150" width="200" /></a></td></tr>
<tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;">Cupido</td></tr>
</tbody></table>
Em<i> "O livro de Ouro da Mitologia" </i>é possível compreender que a mitologia grega tem uma grande importância na elaboração dos principais conceitos da psicologia. Os deuses gregos são imorais e egoístas (em contraste com o Deus judaico-cristão que é moralmente perfeito), revelando traços comuns da natureza humana. Por isso seu estudo se faz importante para uma melhor compreensão de nós mesmos. Por exemplo, o deus <i>Eros</i> (<i>Cupido</i>) era uma criança e não queria crescer. Muitos homens hoje crescem no corpo mas se recusam a crescer na mente, sendo infantis e egoístas, vivendo numa espécie de <i><a href="http://pt.wikipedia.org/wiki/S%C3%ADndrome_de_Peter_Pan" target="_blank">"Síndrome de Peter Pan"</a></i>. <i>Eros</i>, então, começa a crescer quando ganha um irmão e volta a ser criança quando o mesmo o deixa. Isto representa que só amadurecemos na medida em que desenvolvemos nossos relacionamentos.<br />
<br />
Os gregos costumavam contar a origem dos elementos da natureza a partir de lendas interessantes. Muitos rios, montanhas, ventos, plantas, flores e animais surgiram, segundo eles, a partir de heróis que morreram e ressucitaram sob estas formas. Por exemplo, <i>Eco</i> era uma mulher que falava demais e sempre queria dar a palavra final em discussões. Um dia ela foi amaldiçoada por <i>Hera</i> (esposa de <i>Zeus</i>), que a confinou em rochedos. Com essa história, os gregos explicavam a origem do eco. Quando gritamos para algum rochedo ou caverna, segundo eles, <i>Eco</i> repete e dá a palavra final.<br />
<br />
<table cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="float: left; margin-right: 1em; text-align: left;"><tbody>
<tr><td style="text-align: center;"><a href="http://1.bp.blogspot.com/-YR2n5xMscPk/UM4_Y-ijm1I/AAAAAAAAAWE/xCQnDeB9NjI/s1600/Gigantes+e+Ciclopes+-+Odisseu+cega+Polifemo+copy.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; margin-bottom: 1em; margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" src="http://1.bp.blogspot.com/-YR2n5xMscPk/UM4_Y-ijm1I/AAAAAAAAAWE/xCQnDeB9NjI/s320/Gigantes+e+Ciclopes+-+Odisseu+cega+Polifemo+copy.jpg" height="186" width="320" /></a></td></tr>
<tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;">Odisseu e o Ciclope</td></tr>
</tbody></table>
Ademais, as histórias mais emocionantes da mitologia grega são, sem dúvida, as jornadas épicas dos grandes heróis humanos e semi-divinos, como <i>Hércules, Odisseu, Aquiles, Enéias, Jasão</i>, dentre outros. É impressionante a tamanha criatividade que bardos e poetas do passado tinham para contar histórias tão empolgantes, de dar inveja a Spielberg ou James Cameron. Destaca-se a história de <i>Odisseu </i>(ou <i>Ulisses</i>) - de onde vem o termo <i>odisséia</i> - que, após lutar como soldado e estrategista na violenta Guerra de Tróia, passa por diversos perigos em sua volta para casa. Nesta jornada, ele luta contra gigantes de um olho só (<i>Ciclopes</i>), supera maldições, sobrevive a naufrágios, foge do encanto das sereias, luta contra monstros, vai e volta do inferno, escapa da ira de alguns deuses e é ajudado por outros. Cada detalhe da jornada é permeado de aventura, onde Odisseu utiliza de suas qualidades de estrategista para sobreviver, enquanto muitos de seus amigos morrem durante a jornada.<br />
<br />
Por fim, Bulfinch encerra sua obra contando de forma resumida as principais histórias da mitologia oriental e nórdica, além de explicar as mitologias pagãs sob o ponto de vista bíblico, histórico, alegórico e científico. Segue um trecho curioso do livro, onde o autor compara alguns elementos da mitologia grega com a Bíblia e identifica semelhanças:<br />
<br />
<i>"De acordo com esta teoria (bíblica), todas as lendas mitológicas têm sua origem nas narrativas das Escrituras, embora os fatos tenham sido distorcidos e alterados. Assim, Deucalião é apenas um outro nome de Noé, Hércules de Sansão, Árion de Jonas etc. "Sir Walter Raleigh, em sua História do Mundo, diz: Jubal, Tubal e Tubal Caim são Mercúrio, Vulcano e Apolo, inventores do pastoreio, da fundição e da música. O Dragão que guarda os pomos de ouro era a serpente que enganou Eva. A torre de Nemrod [Babel] foi a </i><i>tentativa dos Gigantes contra o Céu."</i><br />
<i><br /></i>
Concluindo, recomendo fortemente o livro para os que desejam descobrir as origens da cultura ocidental, compreender melhor a mente humana e se emocionar com histórias épicas que inspiram escritores e cineastas até hoje.<br />
<br />
--<br />
<br />
* <span style="font-size: x-small;">O zoroastrismo é uma religião monoteísta fundada na antiga Pérsia pelo profeta Zaratustra. É considerada como a primeira manifestação de um monoteísmo ético. (...) algumas das suas concepções religiosas, como a crença no paraíso, na ressurreição, no juízo final e na vinda de um messias, viriam a influenciar o judaísmo, o cristianismo e o islamismo. Fonte Wikipedia - <a href="http://pt.wikipedia.org/wiki/Zoroastrismo">http://pt.wikipedia.org/wiki/Zoroastrismo</a></span>Rafael Pazhttp://www.blogger.com/profile/16761676388020743663noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-1844567187271394609.post-72925510046096605682012-12-10T15:40:00.001-02:002017-08-08T00:11:06.424-03:00A Jornada do HeróiCom o intuito de melhor organizar as idéias acerca da <i>Jornada do Herói</i>, editei o post <a href="http://www.heroisemitos.com.br/2012/11/a-jornada-do-escritor.html" target="_blank"><i>"A Jornada do Escritor"</i></a> dividindo-o em dois, sendo que o original conterá apenas a resenha do livro e neste novo coloquei um resumo acerca dos <i>arquétipos</i> (padrões de personalidades) e das etapas da Jornada do Herói abordadas no livro.<br />
<br />
<table cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="float: right; margin-left: 1em; text-align: right;"><tbody>
<tr><td style="text-align: center;"><a href="http://4.bp.blogspot.com/-tdDR2WBX0QA/UMYXL_z_DkI/AAAAAAAAAVI/OAZ0QcRyND4/s1600/joseph-campbell.jpg" imageanchor="1" style="clear: right; margin-bottom: 1em; margin-left: auto; margin-right: auto;"><img alt="Joseph Campbell definiu o conceito de "Jornada do Herói"" border="0" height="142" src="http://4.bp.blogspot.com/-tdDR2WBX0QA/UMYXL_z_DkI/AAAAAAAAAVI/OAZ0QcRyND4/s200/joseph-campbell.jpg" title="" width="200" /></a></td></tr>
<tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;">Joseph Campbell definiu o <br />
conceito de "Jornada do Herói"</td></tr>
</tbody></table>
Para situar os que nunca ouviram falar destes termos, arquétipos são padrões de personalidade descobertos pelo psicólogo Carl G. Jung e a Jornada do Herói é uma espécie de modelo de jornada encontrada nas histórias mitológicas de todas as culturas antigas e que se transformou num guia formidável para escritores e roteiristas da atualidade estruturarem suas narrativas.<br />
<br />
<br />
Para entender melhor sobre estes assuntos, aconselho a ler os posts sobre os livros que são a fonte deste resumo: <br />
<a href="http://www.heroisemitos.com.br/2010/12/o-heroi-de-mil-faces.html" target="_blank">"O Herói de Mil Faces"</a>, de Joseph Campbell;<br />
<a href="http://www.heroisemitos.com.br/2012/11/a-jornada-do-escritor.html" target="_blank">"A Jornada do Escritor"</a>, de Christopher Vogler;<br />
<br />
<span style="font-size: large;"><b>Arquétipos</b></span><br />
<br />
<b>Herói: </b>é
aquele que se sacrifica por um bem coletivo. É com ele que o espectador
se identifica. Podem haver vários tipos de heróis com interesses
distintos, como por exemplo o Anti-Herói, que se sacrifica não por
bondade, mas por motivações próprias.<br />
<br />
<b>Mentor: </b>é uma figura mais experiente que motiva e fornece dons ou ferramentas para o Herói durante sua Jornada.<br />
<br />
<b>Guardião de Limiar: </b>Personagem ou situações que impedem a entrada do Herói na Jornada. Guardam o limite entre o cotidiano do Herói e sua aventura.<br />
<br />
<b>Arauto:</b>
este personagem anuncia para o Herói o chamado à aventura. Pode ser o
Mentor, o Vilão ou simplesmente um objeto como, por exemplo, uma carta.<br />
<br />
<b>Camaleão: </b>é
o personagem com personalidade dúbia, ou seja, nunca se sabe ao certo
se ele está do lado do bem ou do mal. Por exemplo, o aliado que se
revela inimigo no final ou o inimigo que salva o Herói em algum momento,
revelando-se um aliado.<br />
<br />
<b>Sombra: </b>Normalmente é o
Vilão da história e deseja a destruição do Herói. É a personificação
dos monstros internos de medos e traumas do subconsciente.<br />
<br />
<b>Pícaro: </b>este personagem surge como um alívio cômico para equilibrar a seriedade da história. Serve também para derrubar o <i>status quo</i> do Herói e quebrar seu orgulho.<br />
<br />
<br />
<span style="font-size: large;"><b>Estágios da Jornada do Herói</b></span><br />
<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="http://4.bp.blogspot.com/-TIofZwhn2qw/UMYdKjaXORI/AAAAAAAAAVc/rJossBPiGvA/s1600/ciclo_jornada.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="370" src="http://4.bp.blogspot.com/-TIofZwhn2qw/UMYdKjaXORI/AAAAAAAAAVc/rJossBPiGvA/s400/ciclo_jornada.jpg" width="400" /></a></div>
<b><br /></b>
<b>Estágio Um: Mundo Comum</b><br />
Cotidiano do Herói, sua zona de conforto.<br />
<b><br />Estágio Dois: Chamado à Aventura </b><br />
Herói recebe um chamado a uma aventura inesperada.<br />
<b><br />Estágio Três: Recusa do Chamado</b><br />
Herói normalmente recusa ao chamado pois prefere ficar em sua zona de conforto.<br />
<b><br />Estágio Quatro: Encontro com o Mentor </b><br />
Herói encontra um Mentor que o motiva e fornece dons para a aventura.<br />
<b><br />Estágio Cinco: Travessia do Primeiro Limiar </b><br />
Herói enfrenta os guardiões entre seu mundo comum e o mundo da aventura.<br />
<b><br />Estágio Seis: Testes, Aliados, Inimigos</b><br />
Herói conhece o mundo especial, suas regras, amigos, inimigos e enfrenta diversos testes.<br />
<br />
<b>Estágio Sete: Aproximação da Caverna Oculta </b><br />
<b> </b>Neste momento o herói se aproxima da grande provação<br />
<b><br />Estágio Oito: Provação </b><br />
Na grande provação o herói chega no limite entre a vida e a morte na luta contra o Vilão, mas é salvo milagrosamente.<br />
<b><br />Estágio Nove: Recompensa (Apanhando a Espada)</b><br />
Por vencer a provação, Herói conquista uma recompensa.<br />
<b><br />Estágio Dez: Caminho de Volta</b><br />
Voltando para casa o herói se depara com uma ameaça muito maior. Aqui ele morre.<br />
<br />
<b>Estágio Onze: Ressurreição</b><br />
Como recompensa pelo seu sacrifício, o herói ressucita dos mortos e
vence a grande ameaça final, tornando-se um ser superior.<br />
<br />
<b>Estágio Doze: Retorno com o Elixir</b><br />
O herói então volta para casa (mundo comum) ou fica no mundo especial,
porém agora como uma nova pessoa, com novos conceitos e totalmente
diferente do que era no início.<br />
<br />
--Rafael Pazhttp://www.blogger.com/profile/16761676388020743663noreply@blogger.com6tag:blogger.com,1999:blog-1844567187271394609.post-1641674845960657342012-12-05T08:20:00.002-02:002020-11-20T15:32:18.639-03:00O médico e o monstro<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
</div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
</div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="http://4.bp.blogspot.com/-w3bDFD2Zc7Y/UL8fFzrZeZI/AAAAAAAAARU/eZhzXYFqLBc/s1600/medico_monstro2.JPG" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="http://4.bp.blogspot.com/-w3bDFD2Zc7Y/UL8fFzrZeZI/AAAAAAAAARU/eZhzXYFqLBc/s1600/medico_monstro2.JPG" /></a></div>
<b>Título Original:</b> <i>The Strange Case of Dr. Jekyll and Mr. Hyde</i> <br />
<b>Autor:</b> Robert Louis Stevenson <br />
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Em um dos maiores clássicos da literatura inglesa, Robert Louis Stevenson explora o universo bipolar do homem interior de uma forma assustadora e fascinante. <i>"O médico e o monstro"</i> influenciou de tal forma o mundo que tornou-se referência essencial em filmes, peças, quadrinhos e outras diversas adaptações desde seu lançamento até hoje. O jargão inglês <i>"Jekyll e Hyde"</i>, usado para rotular pessoas com dupla personalidade, nasceu desta obra, referindo-se ao personagem <i>Jeckyll </i>e o "monstro" <i>Hyde</i>.<br />
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A história se passa na Londres do século IXX, onde John Utterson, um advogado, investiga estranhos acontecimentos envolvendo um médico rico, Jeckyll, e um homem estranho e suspeito, Hyde, para quem o médico escrevera seu testamento. Quando descobre que Hyde é um assassino inescrupuloso, tenta fazer de tudo para alertar o médico do perigo que corre atribuindo a esta figura diabólica os seus bens em caso de morte. Porém, no decorrer de sua jornada, Utterson faz uma descoberta inacreditável.<br />
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O livro é pequeno, porém rico em suspense e cheio de significado. O autor utiliza uma linguagem simples e acessível sem deixar a narrativa vagar no superficial. Stevenson consegue gerar um clima de tensão assustador, visto que os personagens expressam sentimentos bem reais. A mensagem passada pela revelação final leva o leitor a uma reflexão profunda acerca do que o ser humano realmente possui dentro de si: a bondade e a maldade, o amor e o ódio, a gentileza e a arrogância. Todos esses sentimentos batalham entre si no interior de cada um e os vencedores constituirão o caráter e a personalidade do indivíduo.<br />
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A idéia do livro lembra muito um verso bíblico: <i>"Porque não faço o bem que quero, mas o mal que não quero esse faço."</i>. Quem já não sentiu a sensação de "possuir" um ser dentro de si, desejando executar atos malignos, enquanto o "outro ser" deseja fazer o que é certo?<br />
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Ainda neste contexto, recomendo o episódio <i>"The Enemy Within" </i>da série clássica Star Trek, em que o capitão Kirk é dividido em duas pessoas - devido a um problema na máquina de teletransporte -, cada um com um lado diferente de sua personalidade. O lado mau e selvagem comete os mais terríveis atos de crueldade, ameaçando a tripulação da <i>Enterprise</i>. Enquanto isso, o seu lado bom não consegue tomar decisões enérgicas para resolver os problemas. Enfim, é outra história fascinante e tem tudo a ver com o tema de <i>"O médico e o monstro"</i>.<br />
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O que você pensa sobre dupla personalidade? Você se considera bom, mau ou as duas coisas? Deixe seus comentários abaixo!Rafael Pazhttp://www.blogger.com/profile/16761676388020743663noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-1844567187271394609.post-77058504868425954332012-12-03T22:13:00.002-02:002021-10-22T11:59:03.240-03:00Interpretação Psicológica do Dogma da Trindade<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="http://3.bp.blogspot.com/-K7aEe7b0FB8/ULzv4ug_pmI/AAAAAAAAAQk/lu_qO8IMXAg/s1600/ipdt_carlJung.jpg" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="200" src="http://3.bp.blogspot.com/-K7aEe7b0FB8/ULzv4ug_pmI/AAAAAAAAAQk/lu_qO8IMXAg/s200/ipdt_carlJung.jpg" width="129" /></a></div>
<b>Título Original:</b> <i>Zur psychologie westlicher und ostlicher religion</i><br />
<b>Autor:</b> Carl Gustav Jung<br />
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Neste tratado envolvendo psicologia e religião, Carl G. Jung organiza um conjunto de idéias interessantes sobre como e porque a Trindade é um elemento essencial na religião cristã, segundo padrões psicológicos. Inicialmente o autor discorre sobre as diversas aparições da figura trinitária, porém única, em diversas religiões da antiguidade. Depois, ele tenta responder porque o Deus cristão é <i>trino</i> e não<i> uno</i> ou <i>duo</i>. Por fim, Jung explica sobre a polêmica questão acerca de uma possível quaternidade.<br />
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Em épocas remotas da história, antes de Abraão - antes de 2000 A.C. -, é possível encontrar diversas formas de adoração trinitária nas culturas primitivas. Por exemplo, na Babilônia antiga adorava-se <i>Anu</i>, <i>Bel</i> e <i>Ea</i> como um deus em três pessoas. <i>Ea</i>, a personificação do saber, era pai de <i>Bel</i> (o "senhor"), que personifica a atividade prática. Da mesma forma, no Egito antigo adorava-se o <i>deus-rei-Ka</i>, onde deus é o "pai" e o "filho", e havia um terceiro elemento chamado <i>Ka-mutef</i>, a força procriadora do deus. Além destes, existem inúmeros outros exemplos de divindades com as mesmas características nas culturas antigas, revelando uma manifestação de arquétipos do inconsciente coletivo (sobre arquétipos e inconsciente coletivo, leia o artigo <a href="http://www.heroisemitos.com.br/2012/11/a-jornada-do-escritor.html" target="_blank">"A Jornada do Escritor"</a>).<br />
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Mas porque este arquétipo é representado por três pessoas e não uma ou duas? Para explicar isto, o autor lança mão de conceitos filosóficos mostrando que, segundo os gregos, o número "um" ainda não é considerado um número sem o "dois", pois sem o "outro" não há contagem. Assim, Deus não poderia ser uma pessoa somente. Já o número dois é a representação do oposto, do outro, do contraste entre o bom e o mal. O segundo dia da criação foi o único em que o autor de Gênesis não disse "e viu Deus que era bom" (nem Deus gostava da segunda-feira, rs). Portanto, também não seria conveniente para uma representação divina um Deus que fosse "duo". A tensão entre o "um" e o "dois" leva a uma espécie de evolução, o "três". A eterna indeterminação do binário se resolve com um terceiro elemento. Na matemática, somente com três pontos é possível se formar um polígono, ou seja, uma figura com uma área significativa, enquanto que com dois forma-se somente uma reta. A formação de uma área com três pontos é uma evolução dimensional. "O cordão de três dobras não se quebra tão depressa." (Ec. 4:12). É no número três que aparece pela primeira vez um começo, um meio e um fim.<br />
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Porém, existe uma complicada questão acerca de uma suposta quaternidade. Enquanto o número três representa a perfeição, o verdadeiro início das coisas que o "um" ou o "dois" não seriam capazes de ser, o quatro representa completude final. Segundo Jung,<i> "a tríade é um esquema ordenador artificial, e não natural"</i>. Por exemplo, há quatro pontos cardeais. Quatro estações do ano. <i>"O ideal de perfeição é o redondo, o círculo, mas sua divisão natural e mínima é a quaternidade"</i>. Onde estaria então o quarto elemento?<br />
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Das estações do ano, três representam a vida (verão, outono, primavera) e uma a morte (inverno). Os sonhos relatados por pacientes em consultórios de psicanálise revelam muitas vezes um padrão onde há três entidades iguais e uma diferente. Por exemplo: três homens e uma mulher sentados a uma mesa, três homens e um cachorro, um caçador e três cahorros, etc. Dos quatro evangelhos, três figuram Jesus como animal e o outro como Homem (<i>Lucas</i>). Ainda, três deles são sinópticos enquanto que o de <i>João</i> é totalmente diferente. O quarto elemento é o diferente, é o oposto. Deus precisou, na eternidade, antes mesmo dos anjos e de Lúcifer, criar o Mal, para que através deste Ele pudesse demonstrar a Sua Glória. Assim, o quarto elemento representa o Oposto de Deus, a Maldade, o Pecado. Ele obviamente não faz parte da Trindade divina, mas completa o ciclo para que a Santíssima Trindade possa ter sentido de existir. <br />
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Todos estes assuntos são demasiadamente difíceis de analisar, e de forma nenhuma existe a pretensão aqui de se chegar a conclusões exatas. O que Carl G. Jung tenta fazer em seu livro é apenas explorar evidências através de exaustivas pesquisas teológicas, filosóficas, históricas, mitológicas e psicanalíticas. Sua conclusão acerca do assunto carrega extrema humildade e flexibilidade:<br />
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<i>"Assim pois não posso presumir que uma investigação do aspecto psicológico tenha esclarecido e resolvido definitivamente o problema dos conteúdos arquetípicos. Na melhor das hipóteses, o que fiz talvez não passe de uma tentativa mais ou menos bem ou mal sucedida de abrir um caminho que permita compreender um dos lados acessíveis do problema."</i><br />
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E você, o que acha disso? Na sua opinião, porque o Deus cristão é <i>Trino</i> e não <i>uno</i> ou <i>duo</i>? Com relação ao quarto elemento, o que tem a dizer? Deixe seu comentário abaixo!Rafael Pazhttp://www.blogger.com/profile/16761676388020743663noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-1844567187271394609.post-87135513665272732162012-11-29T08:30:00.001-02:002017-08-08T00:11:06.433-03:00A Jornada do Escritor<br />
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<a href="http://3.bp.blogspot.com/-B4yQkedU7pA/ULcz4QNPbCI/AAAAAAAAAQQ/I5tgxpn5-5Q/s1600/jornada_escritor.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="320" src="http://3.bp.blogspot.com/-B4yQkedU7pA/ULcz4QNPbCI/AAAAAAAAAQQ/I5tgxpn5-5Q/s320/jornada_escritor.jpg" width="212" /></a></div>
<b>Título original:</b> <i>The Writer's Journey </i><br />
<b>Autor:</b> Christopher Vogler<br />
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Talvez uma das obras mais importantes já feitas sobre estrutura literária, <i>"A Jornada do Escritor"</i> explica os passos essenciais para que escritores ou roteiristas - leigos ou veteranos - possam escrever histórias com maestria, cuja mensagem se identifique com a alma de seu público. Para isto, Vogler baseia-se no legado grandioso do mitólogo Joseph Campbell, principalmente no livro <i>"O herói de mil faces"</i>, bem como nas obras de psicologia de Carl G. Jung sobre <i>arquétipos</i> e<i> inconsciente coletivo</i>.<br />
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O livro <a href="http://www.heroisemitos.com.br/2010/12/o-heroi-de-mil-faces.html" target="_blank"><i>"O herói de mil faces"</i> de Joseph Campbell</a> é uma maravilhosa viagem ao mundo dos contos de heróis de todas as eras, culturas e religiões, mostrando as inacreditáveis semelhanças entre eles. Com isso, Campbell conseguiu traçar alguns padrões nas histórias dos heróis antigos e identificou estes mesmos padrões na história de vida de todo ser humano, de todas as culturas. A estes padrões ele chamou de "Jornada do Herói". Christopher Vogler explora esta "Jornada" e as traduz para uma linguagem atual, fácil e divertida, contrastando com a linguagem de Campbell, que é mais densa e talvez canse alguns.<br />
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Além desta base mitológica, Vogler evoca conceitos da psicologia analítica de Carl G. Jung acerca de arquétipos e incosciente coletivo. Arquétipos podem ser definidos por <i>"padrões de personalidade que são uma herança compartilhada por toda a raça humana"</i>. Em outras palavras, são tipos de personalidades comuns nos contos mitológicos antigos, como o Herói, Vilão, Arauto, Mentor, etc. Cada um possui uma função decisiva na história, fundamental para gerar conflitos e reviravoltas. O incosciente coletivo se entende como o lugar na mente humana de onde brotam esses arquétipos, que, segundo o autor, <i>"são impressionantemente constantes através dos tempos e das mais variadas culturas, nos sonhos e nas personalidades dos indivíduos, assim como na imaginação mítica do mundo inteiro"</i>.<br />
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Como o título sugere, o livro parece ser voltado totalmente para escritores, tanto profissionais como aspirantes. De fato, para quem sonha em escrever livros ou roteiros, a leitura desta obra é obrigatória. Vogler não ensina uma técnica, mas mostra como as etapas da Jornada do Herói podem ser perfeitamente utilizadas para se construir e amarrar bem uma história. Utilizando-se de exemplos variados do cinema e literatura, ele esclarece que estes estágios não são fórmulas ou clichês, mas sim ferramentas que devem ser manipuladas e estruturadas - ou até desconstruídas - com muita criatividade. O fator determinante para uma boa história está justamente na inovação com que se brinca com estes arquétipos e estágios.<br />
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Porém, o livro não serve somente para escritores. Estudar a Jornada do Herói na linguagem direta e atual de Vogler é uma viagem maravilhosa para qualquer um que ama viver a vida intensamente. É muito interessante identificar os tipos de personalidade que nos cercam e as etapas pelas quais passamos no nosso dia a dia e saber que estes elementos estão presentes em filmes, romances, contos e na vida real.<br />
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Para conhecer em detalhes quais são os arquétipos e as etapas da Jornada, leia o artigo <a href="http://www.heroisemitos.com.br/2012/12/a-jornada-do-heroi.html" target="_blank">"A Jornada do Herói"</a>.<br />
Aconselho ler também a apostila do Eduardo Sphor sobre estrutura literária, baseado neste livro:<br />
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<a href="http://filosofianerd.com.br/pdf/estrutura_literaria_apostila.pdf">http://filosofianerd.com.br/pdf/estrutura_literaria_apostila.pdf</a><br />
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E você, o que acha sobre isso? Acredita no inconsciente coletivo? Acredita que todos os heróis passam por etapas semelhantes? Você acha que a Jornada do Herói pode se tornar um clichê no cinema ou literatura?<br />
Deixe seus comentários abaixo!Rafael Pazhttp://www.blogger.com/profile/16761676388020743663noreply@blogger.com8tag:blogger.com,1999:blog-1844567187271394609.post-77762672761686796442012-11-23T08:24:00.001-02:002020-11-20T15:33:00.788-03:00A Batalha do Apocalipse<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="http://4.bp.blogspot.com/-u4NeJUF2o7c/UKO-wcoHVEI/AAAAAAAAAP8/Lr0CklZPjoY/s1600/a-batalha-do-apocalipse1.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="http://4.bp.blogspot.com/-u4NeJUF2o7c/UKO-wcoHVEI/AAAAAAAAAP8/Lr0CklZPjoY/s320/a-batalha-do-apocalipse1.jpg" height="320" width="220" /></a></div>
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Em "A Batalha do apocalipse", o escritor brasileiro Eduardo Spohr apresenta seu universo fantástico angelical criando uma mitologia própria, baseado princpalmente na mitologia judaico-cristã. O autor constrói com maestria uma aventura épica de dimensões gigantescas, superando expectativas, já que este é seu primeiro livro. A obra é uma fantasia que explora os misteriosos sentimentos e ações dos servidores alados do Deus Yahweh e suas consequências no mundo físico, desde a "queda dos anjos até o crepúsculo do mundo", como sugere o subtítulo.<br />
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Neste universo imaginário, o Soberano Deus Yahweh criara os mundos, espirituais e físicos, em seis dias, sendo cada dia representado por uma era de bilhões de anos. No sétimo dia Deus descansa e deixa a cargo dos anjos o governo do mundo, para só acordar novamente no final dos tempos, no Apocalipse. A trama narra a trajetória do anjo renegado Ablon, expulso do céu por discordar das decisões tirânicas do arcanjo Miguel, poderoso líder dos anjos. Em sua forma humana, Ablon atravessa os séculos da história do mundo, ora no plano físico, ora no espiritual, se aventurando para desvendar uma complexa intriga envolvendo os arcanjos Miguel e Gabriel, Lúcifer e seus demônios, anjos renegados, homens e o fim do mundo.<br />
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É bom frisar que o livro é uma fantasia, não uma tentativa de se pregar algum tipo de doutrina religiosa. É importante ter isto em mente antes de começar a leitura, pois a mitologia criada por Sphor contém elementos de diversas religiões, que servem como pano de fundo para uma aventura bem interessante. Os religiosos mais radicais talvez se sintam incomodados com alguns trechos da obra, como aconteceu na Itália, onde a Igreja Católica proibiu a publicação do livro, por conter "heresias".<br />
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Com uma trama bem fundamentada sobre os princípios universais da <a href="http://www.heroisemitos.com.br/2012/12/a-jornada-do-heroi.html" target="_blank">Jornada do Herói</a>, com todas as suas etapas e seus arquétipos muito bem construídos, temos aqui uma obra peculiar da literatura nacional moderna. Apesar da estrutura mítica conhecida e identificável, a obra não possui clichês e contém muitos elementos surpresa. Eduardo Sphor impressiona com sua escrita dinâmica e cinematográfica, que em momento nenhum deixa o leitor cansado durante as 560 páginas de puro entretenimento. As descrições de anjos, demônios, do inferno e de batalhas espirituais são densas e levam o leitor a visualizar estes mundos de forma bem real. Os fatos históricos pelos quais os protagonistas passam, como as origens do misterioso rei Ninrod, da Torre de Babel e a queda de Constantinopla, são experiências fascinantes.<br />
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Infelizmente, ainda existe muito preconceito no Brasil para com autores nacionais de fantasia. Os brasileiros, em sua maioria, não acreditam no potencial de seus conterrâneos para determinados gêneros. Porém, Eduardo Spohr surge como um dos "pontas de lança" da literatura fantástica nacional da atualidade para mostrar que escritor brasileiro também sabe contar boas histórias fora do convencional. Começando as vendas de forma independente e posteriormente sendo publicado pela editora Record, "A Batalha do Apocalipse" chegara a entrar na lista dos 10 mais vendidos no país em 2010. Hoje o livro já foi lançado em diversos países, inclusive Holanda, Alemanha e Portugal.Rafael Pazhttp://www.blogger.com/profile/16761676388020743663noreply@blogger.com1