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segunda-feira, 24 de junho de 2013

Filhos do Éden - Herdeiros de Atlântida

Título Original: Filhos do Éden - Herdeiros de Atlântida
Autor: Eduardo Spohr

Em Filhos do Éden - Herdeiros de Atlântida, Eduardo Spohr lança o leitor em uma nova aventura angelical que se passa no mesmo universo que o seu primeiro livro A Batalha do Apocalipse. Enquanto a primeira obra trata-se de uma história fechada envolvendo um anjo renegado vivendo em várias eras desde a criação do mundo até o Apocalipse, Filhos do Éden é o primeiro livro de uma nova saga que aborda o drama pessoal de alguns anjos nos dias atuais, desvendando mistérios que se encaixam como peças de quebra-cabeça no grande universo mitológico criado pelo autor.

A trama gira em torno de Kaira, um anjo feminino (sim, neste universo anjos tem sexo, mas não o utilizam, rs) materializada como humana, que precisa ser resgatada da Terra por outros alados, pois sofrera uma espécie de amnésia espiritual e não acredita mais que é um anjo. No decorrer da trama surge uma série de intrigas envolvendo a cidade perdida de Atlântida e os três líderes das facções angelicais: Miguel, o líder de todos os anjos que governa ditatorialmente e anseia por destruir a raça humana; Gabriel, o arcanjo que se rebelou contra Miguel e luta pela preservação da vida na Terra; Lúcifer, a Estrela da Manhã que desejou ser maior que Deus e foi condenado às regiões mais hostis das camadas celestiais, o Inferno. Deuses mitológicos também contracenam com os personagens, que neste universo representam espíritos de homens que, de tanto serem idolatrados, acabaram virando deuses, mas em sua maioria foram derrotados pelos anjos nas guerras pelo domínio dos sete céus.

A aventura fantástica é bem divertida e envolvente, porém menos épica que A Batalha do Apocalipse. No primeiro livro o autor extrai emoção dos grandes acontecimentos históricos da humanidade e de como estes fatos foram influenciados pelos seres alados no decorrer das eras. Já nesta nova saga,  os personagens são mais introspectivos e a trama de menor magnitude. Por causa disso e devido a tratar-se de um livro grande, às vezes a narrativa fica um pouco arrastada, sobrando muitas páginas para poucos acontecimentos. Porém vê-se neste segundo livro traços de evolução evidentes na escrita de Spohr. Os trechos de ação são de perfeição cinematográfica, as descrições de cenário muito bem elaboradas e existe um interessante aprofundamento nas emoções dos personagens.

No fundo, acredito que este tipo de história funcionaria melhor no cinema. No livro, o autor interrompe demais a dinâmica da trama para explicar as "regras" de seu universo. Isso pode cansar algumas pessoas, apesar de não prejudicar o valor da obra. Talvez se ele investisse mais no suspense e mistério envolvendo seus personagens, ao invés de deixar tudo explicadinho, sobraria tempo para tramas mais intricadas. Se a obra for para a telona algum dia, como não haveria tempo para tantas explicações, talvez pudéssemos ver algo mais dinâmico. Da mesma forma como foi em Senhor dos Anéis. Muitas pessoas não conseguiram ler o livro por causa das imensas descrições explicativas de Tolkien, mas assistiram o filme e gostaram. Torçamos para que James Cameron, Christopher Nolan ou J.J. Abrahms faça uma adaptação do universo de Eduardo Spohr!

Apesar destes pontos de atenção (não considero pontos negativos), a leitura vale muito a pena para quem gosta de ficção fantástica!

segunda-feira, 17 de junho de 2013

Mitologia Ocidental - Parte III


Dualismo ético - Zoroastrismo

Por volta do século VII a.C., o mundo estava mergulhado no politeísmo e em religiões cujos deuses “estavam fora do alcance do julgamento ético. Na verdade, estavam fora de todos os pares de opostos: bem e mal, verdadeiro e falso, ser e não-ser, vida e morte.(...) A orientação de tal ordem de pensamento era metafísica, não ética ou racional, mas trans-ética e trans-racional. No Extremo Oriente, por exemplo, (...) o mundo não era para ser reformado, mas apenas conhecido, reverenciado, e suas leis obedecidas.” As leis éticas de Israel estavam a muito esquecidas tanto pelos reis hebreus quanto pelo povo. Assim, o povo escolhido do único Deus Jeová já havia sido totalmente absorvido pela idolatria e costumes pagãos. Tanto que, anos depois, o rei Josias encontra a Lei no Templo e restaura o monoteísmo em Israel como nunca havia sido praticado desde os tempos do profeta Samuel (2 Cr. 35:18). Ou seja, durante cerca de 300 anos, os hebreus estavam desviados de suas Leis éticas, morais e ritualísticas.


Surge então, na Pérsia, um profeta chamado Zoroastro, anunciando de forma revolucionária uma filosofia que consistia de vários elementos importantes na construção do pensamento judaico, cristão e islâmico posteriores. Zoroastro dissemina na Pérsia e no mundo o monoteísmo, sendo Ahura Mazda o único Senhor e Criador do Universo. Oposto a Ele, existe Angra Mainyu, que é a personificação da Maldade e Mentira, uma espécie de Satanás. Dentre as diversas doutrinas propagadas pelo profeta persa, estão: o dualismo ético gerador do juízo eterno baseado em fazer ou não boas obras, a imortalidade da alma, a ressurreição dos mortos, juízo final com a aniquilação do Mal (Angra Mainyu) e a restauração do Reino perfeito de Ahura Mazda.

As doutrinas zoroastrianas se espalharam de tal forma que podemos observar sua influência em muitos fatos importantes da história. Por exemplo, o imperador persa Ciro era um devoto fiel de Ahura Mazda e seguia piamente os preceitos de Zoroastro. Como podemos ler na Bíblia, Ciro, o Grande, é aclamado pelo profeta Isaías como o "ungido do Senhor" (Is. 45:1-4), pois fora benevolente para com os povos cativos e libertou muitos deles, inclusive os judeus, para voltarem para suas terras (Esdras 1:1-7). Ciro acreditava na prática das boas obras, da misericórdia e no amor como forma de salvação, como Zoroastro pregava. "A nobreza de seu caráter resplandece", escreve o Prof. Eduard Meyer, "tanto nos escritos dos persas, a quem ele conduziu ao domínio do mundo, como nos dos judeus, que libertou, e dos gregos a quem derrotou".


Os judeus, durante o cativeiro babilônico, absorveram em suas tradições muitas das doutrinas pregadas por Zoroastro. Mais tarde pode-se ver a criação de dois partidos político-religiosos em Israel: os fariseus e saduceus. Conforme lê-se nos evangelhos, os saduceus eram mais "puritanos" com relação às tradições judaicas e não aceitavam misturas gentílicas. Por isso não acreditavam na ressurreição dos mortos, na imortalidade da alma, no juízo final de vivos e mortos, dentre outras doutrinas que surgiram com Zoroastro, e não com os judeus. Já os fariseus eram mais "liberais" e aceitavam a introdução do pensamento zoroastriano em suas crenças.

Muitos dos ensinos, princípios e parábolas de Jesus e várias ilustrações do Apocalipse são bem parecidos com aquilo que Zoroastro pregava, principalmente referindo-se à prática das boas obras, boas ações e boas palavras. Parábolas como a do rico e Lázaro (Lc 16:19-31) e a ilustração do julgamento final baseado na caridade para com os pobres e rejeitados (Mt. 25:31-46) parecem ter sido extraídos de textos de Zoroastro. Muitas doutrinas cristãs estudadas nos seminários teológicos até hoje são oriundas do zoroastrismo. Ora, isto não tira a autoridade do Filho de Deus, muito pelo contrário, mostra que Jesus não era um bitolado religioso judeu, mas sim um Homem completo, que compreendia a revelação de Deus em todos os povos e as utilizava para mostrar a grandeza e soberania de um Deus que não está limitado a "cercas" religiosas ou culturais.
Helenismo

Vimos na Parte II deste estudo que a Grécia passava, por volta de 400 a.C., por um período de transformações profundas no pensamento coletivo mitológico e filosófico. Os mitos outrora idolatrados passavam agora para a categoria de meras alegorias pelos sábios gregos. Filósofos tentavam exprimir uma redefinição da essência divina, ou "causa última" como chamavam pelo termo ἀρχή. Tales de Mileto acreditava que a causa última era a "água"; Anaximandro, o "ilimitado"; Anaxímenes, o "ar"; os pitagóricos, o "número". Porém, um século mais tarde, Platão e sua escola abordaram o tema de forma mais sublime, inclusive repetida por Jesus e pelos apóstolos. Platão dizia que a essência divina era o "amor".


"Tem-se argumentado que a mitologia grega degenerou de religião em literatura por causa do sentido sumamente crítico da mente grega, que já se havia voltado contra ela nos séculos VI e V a.C. Com frequência, esse argumento envolve a idéia de que o politeísmo é uma forma inferior de religião, vulnerável à crítica, enquanto o monoteísmo, não. Em consequência, quando a mente grega começou a analisá-lo de modo crítico, o politeísmo foi liquidado. Abriu-se então o caminho para a Verdade Cristã revelada do Deus Único em Três Pessoas, com seu panteão de anjos, contrapanteão de demônios, comunhão de santos, perdão de pecados e ressurreição do corpo. Abriu-se caminho também à presença múltipla (em cada gota consagrada do vinho e pão da Santa Ceia) do Filho de Deus morto e ressuscitado - verdadeiro Deus e verdadeiro Homem -, nascido milagrosamente da Virgem Mãe Maria." [1]


Tanto o monoteísmo hebreu quanto o persa (com exceção de Ciro) tinham como característica marcante o extermínio de tudo aquilo que era considerado impuro dos inimigos (inclusive animais e crianças), pois não havia outro Deus senão o seu próprio. Com a chegada de Alexandre, o Grande, no cenário político mundial em 334 a.C., a conquista do Oriente e da Índia, não com destruição mas com o domínio cultural, fizeram com que os deuses gregos influenciassem todas as culturas do mundo. Apesar de os gregos estarem em uma nova fase de pensamento filosófico acerca do divino, "os belos deuses gregos, longe de morrer, sopraram seu alento inspirador por toda a Ásia, despertando novas formas religiosas e estéticas na Índia Maurya, na China Han e no Japão. No Ocidente, despertaram Roma e no sul deram um novo significado aos antiquíssimos cultos da deusa Ísis e seu cônjuge." [1]


Existem três pontos importantes a serem observados quanto à influência grega no mundo: 1) o sincretismo religioso promoveu tolerância e respeito entre diversas culturas, pois os povos dominados por Alexandre identificavam analogias entre seus deuses e os dos gregos; 2) O desenvolvimento da matemática e astronomia fora muito mais proeminente devido às trocas de conhecimento com os sábios do Oriente; 3) Na Índia, a filosofia grega encontrou-se com os iogues jainistas, budistas e bramanistas, dando origem a um saber místico psicossomático que seria o embrião da moderna psicologia de Nietzsche, Freud e Jung.


Além disso, os avanços na ciência promovida no império alexandrino foram inúmeros. Aristarco de Samos (310-230 a.C.) propôs que a Terra e todos os planetas giravam em torno do Sol, contrariando o pensamento geocêntrico que predominou até Copérnico (1473 d.C.)! Erastóstenes de Cirene (275-200 a.C.) mediu a circunferência da Terra com uma imprecisão de apenas 321 quilômetros, e concluiu que se podia navegar da Espanha, na direção oeste, até a Índia. Sugeriu também que o Atlântico estaria dividido por uma massa de terra (América)! Na medicina, Herófilo de Calcedônia (séc. III a.C.) descobria a relação entre o cérebro, a coluna vertebral e os nervos, e Erasístrato de Chíos (séc. III a.C.) reconhecia a diferença entre os nervos motores e sensoriais.



Referências:
[1] As Máscaras de Deus - Vol. 3 - Mitologia Ocidental
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Na próxima parte veremos como o cristianismo transformou o mundo utilizando muito do pensamento grego de um lado, porém também lançando mão do antigo pensamento "levantino" conquistador e ditatorial.

segunda-feira, 3 de junho de 2013

Sem Barganhas com Deus

Título Original: Sem Barganhas com Deus
Autor: Caio Fábio D'Araújo Filho


O livro "Sem Barganhas com Deus", de Caio Fábio, é um tratado revolucionário, magistral e subversivo para quebrar conceitos cristãos errados sobre "moral absoluta". O autor confronta a mentalidade religiosa fundamentada no que ele chama de "Teologia Moral de Causa e Efeito", que busca atribuir a providência ou salvação divina como resultado daquilo que fazemos segundo os padrões morais estabelecidos por uma minoria no passado e adotada pela maioria ao longo dos anos.

"Ora, antes de haver Moral houve seres Moralistas. Estes são os filhos de Caim e de sua presunção de agradar a Deus por suas próprias obras. Mas fazem isto pela força de coação, e usam o seu poder a fim de impor um comportamento ou fabricar valores que são estabelecidos sobre os demais, e que, depois de um tempo, são aceitos como média, como maioria, como consenso."

Caio Fábio revela, através de exemplos como os heróis da Bíblia, que os conceitos morais de certo e errado variam tanto com o decorrer dos séculos que torna-se incoerente associar a prática da Moral com as dicotomias de santidade/pecado, salvação/perdição, benção/maldição. Por exemplo, Abraão, Jacó, Davi, Moisés e outros grandes homens "justos" da Bíblia mataram muita gente e possuíram várias mulheres. Ora, se hoje um homem que mata e tem dez esposas resolvesse abrir uma igreja, quem o reconheceria como homem de Deus? Provavelmente ninguém!

"A durabilidade da Moral não é longa. Varia de tempos em tempos, mas no tempo em que está vigente, torna-se um valor absoluto da maioria contra as minorias. E esta é a ironia: minorias a impõem sobre uma maioria, e, depois, esse código se volta sobre os milhares de minorias, que, inconscientemente, “assinaram o acordo”. 

"Teologia Moral de Causa e Efeito" busca também justificar de forma lógica que a benção, salvação e prosperidade vem sobre os "justos", segundo os padrões morais estabelecidos no tempo vigente. Enquanto que a maldição, perdição e miséria vem sobre os "maus", ou seja, aqueles que não se enquadram nos conceitos de certo e errado da maioria. Algumas linhas religiosas - que pregam reencarnação ou castas - transferem esta lógica de "causa" e "efeito" para vidas passadas. Porém, o livro de Eclesiastes desconstrói a idéia de "causa" e "efeito" moral:

"... há justos a quem sucede segundo as obras dos ímpios, e há ímpios a quem sucede segundo as obras dos justos." Ec. 8:14
"Tudo sucede igualmente a todos; o mesmo sucede ao justo e ao ímpio, ao bom e ao puro, como ao impuro; assim ao que sacrifica como ao que não sacrifica; assim ao bom como ao pecador; ao que jura como ao que teme o juramento." Ec. 9:2

Assim, o conceito de "justo" varia no tempo e lugar. Ser justo, muitas vezes, é viver segundo a "normalidade" temporal do que está estabelecido como certo e errado pela maioria dentro de algum contexto religioso. Esta mentalidade, ao invés de gerar vida, gera a morte, pois escraviza pessoas em normas que normalmente vão contra a naturalidade da vida, levando-as a viverem cheias de culpas e neuroses por não atingirem um padrão "ideal" de santidade. E por outro lado, produz gente soberba e exclusivista, que acham que são "melhores" do que aqueles que não conseguem viver segundo os padrões que tanto idolatram.

E o que é ser justo de fato? Ser justo consiste em amar e valorizar o ser humano. Esta é a única chave para viver em paz, sendo de fato um justo, ainda que "errado" segundo padrões estabelecidos. Segundo Caio, "não tenho de ser para ninguém nada além daquilo que Deus sabe que eu sou. Isto me ajuda a não ter medo de ser gente". Assim,  amar, exercer misericórdia e ajudar o necessitado são as regras de ouro. E nada disso tem a ver com a Moral.

É interessante frisar que as Leis da sociedade são importantes para o convívio social, já que nem todos (ou a maioria) não entende o que é viver em Amor. Mas leis sociais são diferentes de leis morais. Neste ponto, o autor escreve:

"A Lei nos proíbe de não permitir o outro ser, desde que a expressão de seu ser não seja contra a liberdade do próximo de também ser. A Lei nos garante que essa liberdade vai apenas até o limite em que sua expressão de ser não violente um outro ser humano. A Moral, todavia, nos impede de ser diferentes da maioria, portanto, mata a expressão do ser."

Em suma, o livro trata destes assuntos e de outros relacionados, como a famosa dicotomia teológica "Lei x Graça".

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E você, o que pensa sobre estes assuntos? O que você pensa sobre a Moral? E com relação à mentalidade de "causa" e "consequência" moral resultando em benção/maldição? Comente abaixo.

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