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segunda-feira, 24 de março de 2014

O Coração das Trevas

Título original: Heart of Darkness
Autor: Joseph Conrad (1857 - 1924)

"A conquista da Terra, o que na maior parte significa tirá-la daqueles que tem uma fisionomia diferente ou narizes ligeiramente mais achatados do que os nossos, não é uma coisa bonita quando você olha demais para ela."

Nesta obra prima da literatura inglesa, Joseph Conrad conduz o leitor a uma fascinante viagem pelo interior da África e, ao mesmo tempo, pelos meandros da mente humana, revelando seus mais grotescos anseios, ganancias, preconceitos, loucuras e fraquezas. Como capitão da marinha inglesa durante 16 anos, Conrad percorreu todos os continentes do globo, tirando disso experiências que se tornaram os cenários de seus inúmeros livros e contos. O tema principal de "O Coração das Trevas" é a fusão do civilizado com o selvagem no interior do ser humano, cujos limites são desconhecidos e se misturam quando o homem é movido pela ganância.

O livro conta a história de um marinheiro chamado Marlow, que parte em uma missão de resgate do misterioso Kurtz, um importante comerciante de marfim, no interior de uma floresta africana ao final do séc. XIX. A jornada acontece em um barco a vapor através de um sinuoso rio que penetra uma tenebrosa floresta repleta de nativos selvagens e exploradores loucos. Esta obra magnífica deu origem ao clássico filme "Apocalipse Now" de Francis Ford Coppola, sendo que na adaptação para o cinema a história foi transportada para a guerra do Vietnã.

Conrad narra sua odisséia com impressionante realismo, detalhando com precisão a bela natureza do local, levando o leitor a uma emocionante experiência imersiva. O ritmo de leitura pode cansar em alguns momentos, pois trata-se de uma obra muito descritiva, cujo valor da mensagem encontra-se implícito no perfil psicológico de seus personagens. É impressionante como o autor consegue centrar toda a trama em um personagem que só vai aparecer no final. Durante toda a travessia no rio, Marlow e o leitor vão aos poucos recebendo uma série de informações sobre o poderoso e misterioso Kurtz, um homem que contagiara toda uma região e tornara-se uma espécie de rei/semi-deus entre nativos e comerciantes na selva.

" 'O senhor não fala com o Sr. Kurtz?', disse eu. 'Você não fala com aquele homem – você o escuta', exclamou com severa exaltação. (...) 'Quem não se tornaria amigo dele ao ouvi-lo falar, ainda que fosse uma só vez?', dizia ela. 'Atraía as pessoas em direção a ele com o que havia de melhor nelas ... esse é o dom dos grandes homens'."

Este é um livro difícil para se fazer uma reflexão, visto que ele aborda questões complexas da mente humana e temas contrastantes como os limites entre bem e mal, certo e errado, civilizado e selvagem, loucura e normalidade. Aconselho a ler a obra duas vezes. A primeira para se ter uma visão livre, na qual o leitor possa tirar suas próprias conclusões. Antes de ler uma segunda vez, pesquise a respeito, leia teses e análises sobre a obra na internet. O tom implícito do autor transforma este livro em uma obra de arte subjetiva e sublime, repleta de sentenças impactantes e poéticas, cheias de significado.

"Coisa engraçada é a vida – misterioso arranjo de lógica implacável para um propósito fútil. O máximo que você pode esperar dela é algum conhecimento de si próprio...que chega tarde demais...uma colheita de inesgotáveis arrependimentos."

O livro também denuncia como o imperialismo das grandes potências trata o ser humano diferente e mais fraco como verdadeiros animais. Alguns taxam a obra de racista, pela diferença como o autor descreve os nativos dos colonizadores, sendo os primeiros apresentados através de suas características físicas, enquanto os segundos pelas suas profissões. Este fato é explicado pela realidade e época em que Conrad viveu, muito diferente da nossa, em que a visão acerca de povos não explorados era a mais bizarra possível.

Leitura obrigatória!

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