Autor: Jerome David Salinger (1919-2010)
"- E a vida é um jogo, meu filho. A vida é um jogo que se tem de disputar de acordo com as regras.
- Sim, senhor, sei que é. Eu sei.
(...) Jogo uma ova. Bom jogo esse. Se a gente está do lado dos bacanas, aí sim, é um jogo - concordo plenamente. Mas se a gente está do outro lado, onde não tem nenhum fodão, então que jogo é esse? Que jogo, que nada."
Mais que um livro, um agente transformador! Esta é a melhor frase que encontrei para expressar o sentimento que ficou ao terminar de ler "O Apanhador no Campo de Centeio", de J. D. Salinger, um dos maiores clássicos da literatura moderna e talvez um dos livros mais importantes da revolução cultural ocorrida na segunda metade do século XX. Esta singela narrativa fascina leitores de todas as idades pelo seu cativante protagonista adolescente, pela linguagem informal e de baixo calão e por ser uma obra pioneira a falar abertamente dos conflitos internos dos jovens.
Um dos pontos mais importantes de uma obra literária são seus personagens. Talvez seja o ponto mais importante. Ao término de uma leitura, pode-se avaliar o grau de qualidade da obra pela saudade que o leitor fica de seus protagonistas. Livros medianos ou ruins - mesmo que possuam boas tramas - fazem dos personagens meros robôs falantes que nunca deixarão saudades, nunca farão o leitor revisitá-los em outros momentos, como se revisita amigos de longas datas. Assim, o papel do bom escritor não é criar meros personagens, mas sim criar amigos do leitor, daqueles que dão prazer de seguir, imitar, compartilhar, conversar... de simplesmente estar junto. Quando o autor consegue esta magia, ele alcança seu Magnum opus. Em "O Apanhador no Campo de Centeio", Salinger nos presenteia com um personagem-amigo que tem marcado a vida de milhões de leitores desde seu lançamento em 1951.
"Estou sempre dizendo: "Muito prazer em conhecê-lo" para alguém que não tenho nenhum prazer em conhecer. Mas a gente tem que fazer essas coisas para seguir vivendo."
A trama de "O Apanhador..." é a mais simples possível. O protagonista, Holden Caulfield, é um adolescente que, após ser expulso de seu colégio, narra os acontecimentos dos dias subsequentes a este vexame. Neste tempo, ele encontra amigos, professores e a irmã mais nova, vagueia por ruas e bares, conhece pessoas diferentes e tenta ao máximo adiar a notícia da expulsão para os pais.
Nota-se que não é a trama que faz deste livro uma obra prima, mas sim o personagem principal com seus diálogos inocentes e pensamentos autênticos. Sua visão de mundo é livre de hipocrisia e cheia de questionamentos que ninguém é capaz de entender, somente o leitor. Relacionamentos, amizade, sexo, drogas, futilidades, cultura, aceitação, rejeição e mais um turbilhão de questões internas que todo adolescente possui - mas raramente as expõe - são os assuntos deste personagem que conversa com o leitor numa linguagem informal, pura e sincera. No decorrer da leitura, é impossível não se identificar com o jovem Caulfield. O leitor, independente da idade, certamente encontrará nos pensamentos do protagonista aquilo que ele mesmo sempre pensou, mas nunca teve coragem de se expressar. Sem nenhum sentimentalismo, "O Apanhador no Campo de Centeio" é um livro libertador!
"Os colégios de rapazes estão entupidos de cretinos, e você só faz estudar bastante para poder um dia comprar uma droga dum cadilaque, e você é obrigado a fingir que fica chateado se o time de futebol perder, e só faz falar de garotas e bebida e sexo o dia inteiro, e todo mundo forma uns grupinhos nojentos. Os caras do time de basquete formam um grupinho, os camaradas que jogam bridge formam um grupinho. Até os que são sócios da porcaria do Clube do Livro formam um grupinho. Se você tenta bater um papo inteligente..."
Lançado em 1951, este livro foi uma obra pioneira na expressão dos questionamentos e conflitos internos dos jovens, sempre ignorados até então. Na verdade, conceitos como "adolescente" e "jovem" - como os conhecemos hoje - não existiam até o início do século XX. Desde a antiguidade, as "crianças" passavam para a idade adulta em média aos quatorze anos, onde casavam-se e trabalhavam. Após a Revolução Industrial, no séc XIX, fora criada uma etapa na vida dos jovens, entre treze e dezoito anos de idade, para que eles pudessem se preparar para a vida adulta - embrião do conceito de "adolescência".
Porém, até a metade do séc. XX, ninguém se preocupara em mostrar ao mundo o clamor de inadequação e o choque que a natureza jovem encontra ao se deparar com um mundo tão hipócrita, falso e fútil. Neste momento é que chega a obra prima de Salinger, abrindo caminho para um revolução cultural jamais vista na história, quebrando inúmeros paradigmas e tabus da sociedade.
"O caso é o seguinte: na maioria das vezes que a gente está quase fazendo o negócio com uma garota - uma garota que não seja uma prostituta nem nada, evidentemente - ela fica dizendo para a gente parar. Meu problema é que eu paro. A maioria dos sujeitos não pára, mas eu não consigo ser assim. A gente nunca sabe se elas realmente querem que a gente pare, ou se estão apenas com um medo danado, ou se estão pedindo que a gente pare só para que, se a gente continuar mesmo, a culpa seja só nossa, e não delas."
Em suma, "O Apanhador no Campo de Centeio" merece ser lido, relido, pensado, refletido e propagado. Obviamente que ele não tem hoje o mesmo efeito revolucionário que teve sessenta anos atrás, mas a essência de sua mensagem continuará marcando a vida de milhões ainda por muito tempo.
A trama de "O Apanhador..." é a mais simples possível. O protagonista, Holden Caulfield, é um adolescente que, após ser expulso de seu colégio, narra os acontecimentos dos dias subsequentes a este vexame. Neste tempo, ele encontra amigos, professores e a irmã mais nova, vagueia por ruas e bares, conhece pessoas diferentes e tenta ao máximo adiar a notícia da expulsão para os pais.
Nota-se que não é a trama que faz deste livro uma obra prima, mas sim o personagem principal com seus diálogos inocentes e pensamentos autênticos. Sua visão de mundo é livre de hipocrisia e cheia de questionamentos que ninguém é capaz de entender, somente o leitor. Relacionamentos, amizade, sexo, drogas, futilidades, cultura, aceitação, rejeição e mais um turbilhão de questões internas que todo adolescente possui - mas raramente as expõe - são os assuntos deste personagem que conversa com o leitor numa linguagem informal, pura e sincera. No decorrer da leitura, é impossível não se identificar com o jovem Caulfield. O leitor, independente da idade, certamente encontrará nos pensamentos do protagonista aquilo que ele mesmo sempre pensou, mas nunca teve coragem de se expressar. Sem nenhum sentimentalismo, "O Apanhador no Campo de Centeio" é um livro libertador!
"Os colégios de rapazes estão entupidos de cretinos, e você só faz estudar bastante para poder um dia comprar uma droga dum cadilaque, e você é obrigado a fingir que fica chateado se o time de futebol perder, e só faz falar de garotas e bebida e sexo o dia inteiro, e todo mundo forma uns grupinhos nojentos. Os caras do time de basquete formam um grupinho, os camaradas que jogam bridge formam um grupinho. Até os que são sócios da porcaria do Clube do Livro formam um grupinho. Se você tenta bater um papo inteligente..."
Lançado em 1951, este livro foi uma obra pioneira na expressão dos questionamentos e conflitos internos dos jovens, sempre ignorados até então. Na verdade, conceitos como "adolescente" e "jovem" - como os conhecemos hoje - não existiam até o início do século XX. Desde a antiguidade, as "crianças" passavam para a idade adulta em média aos quatorze anos, onde casavam-se e trabalhavam. Após a Revolução Industrial, no séc XIX, fora criada uma etapa na vida dos jovens, entre treze e dezoito anos de idade, para que eles pudessem se preparar para a vida adulta - embrião do conceito de "adolescência".
Porém, até a metade do séc. XX, ninguém se preocupara em mostrar ao mundo o clamor de inadequação e o choque que a natureza jovem encontra ao se deparar com um mundo tão hipócrita, falso e fútil. Neste momento é que chega a obra prima de Salinger, abrindo caminho para um revolução cultural jamais vista na história, quebrando inúmeros paradigmas e tabus da sociedade.
"O caso é o seguinte: na maioria das vezes que a gente está quase fazendo o negócio com uma garota - uma garota que não seja uma prostituta nem nada, evidentemente - ela fica dizendo para a gente parar. Meu problema é que eu paro. A maioria dos sujeitos não pára, mas eu não consigo ser assim. A gente nunca sabe se elas realmente querem que a gente pare, ou se estão apenas com um medo danado, ou se estão pedindo que a gente pare só para que, se a gente continuar mesmo, a culpa seja só nossa, e não delas."
Em suma, "O Apanhador no Campo de Centeio" merece ser lido, relido, pensado, refletido e propagado. Obviamente que ele não tem hoje o mesmo efeito revolucionário que teve sessenta anos atrás, mas a essência de sua mensagem continuará marcando a vida de milhões ainda por muito tempo.
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