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segunda-feira, 1 de julho de 2013

Por uma igreja com a cara de Jesus

Título Original: Por uma igreja com a cara de Jesus
Autor: Leonardo Brito

Tive o prazer de ler uma cópia autografada deste pequenino porém impactante livro que certamente entrará para minha lista de livros "para se reler pelo menos uma vez por ano". Leonardo Brito, teólogo e pastor protestante, elabora da forma mais clara e objetiva possível os principais pontos nos quais a maioria das igrejas evangélicas atuais se desviaram da simplicidade do Evangelho de Jesus Cristo, tanto na mentalidade quanto nas práticas organizacionais. Sem rodeios, o autor não mede palavras e fala com total franqueza acerca dos sérios problemas encontrados em muitas denominações, que  já caducaram em levar pessoas a serem verdadeiros discípulos de Jesus, apesar de conquistarem sucesso quantitativo e financeiro.

Antes de continuar, reitero o que já expressei em outros artigos sobre  livros igualmente polêmicos: este artigo não foi publicado com a intenção de desrespeitar qualquer religião. O autor do H&M respeita a liberdade religiosa e acredita que, se uma doutrina está fazendo de você uma pessoa melhor para com o seu próximo e para com o mundo, continue a segui-la. O que este livro expressa é a discrepância que algumas igrejas (obviamente não todas) estão dos ensinos de Jesus.

Continuando, a escrita de Brito é leve e fácil e considero leitura obrigatória para todo cristão. Dividido em cinco capítulos, resumidos abaixo, o autor não poderia ter definido melhor os pontos chave nos quais muitas igrejas mudaram o conteúdo da "garrafa", porém mantiveram no rótulo o nome "Evangelho", e distribui (ou vende?) o produto aos milhares de sedentos que nunca conseguem saciar sua sede dentro dos templos:

Jesus (Simplicidade) x Igreja (Ostentação)

Jesus ordenou a seus discípulos que não adotassem entre si o modelo de governo do mundo, que consiste na exploração e controle sobre os mais humildes. Ele também deu o exemplo, pois, "sendo em forma de Deus, não teve por usurpação ser igual a Deus, mas esvaziou-se a si mesmo, tomando a forma de servo, fazendo-se semelhante aos homens" (Fp. 2:6,7). Porém, o que muitas igrejas praticam com relação às suas finanças é exatamente o oposto.

É fácil notar que os cargos de liderança em certas igrejas sempre são concedidos aos mais abastados financeiramente, que comandam o jogo de poder sobre as massas que são constrangidas a acatar tudo, senão estarão "sob maldição de rebeldia contra os ungidos do Senhor". É igualmente lastimável que, enquanto pastores possuem gabinetes luxuosos e padrão de vida abastados, o zelador da igreja mal consegue sustentar sua família e depende do falido sistema público de saúde. E quando foi que vimos alguma igreja rica financeiramente ajudar e repartir com igualdade e solidariedade seus recursos com aquelas igrejinhas pobres?

Jesus (Amor) x Igreja (Intolerância)

O título atribuído a Jesus que mais impressiona, segundo o autor, não é "Senhor", "Salvador" ou "Filho de Deus". Jesus certa vez foi chamado de "amigo de pecadores". Não há nada mais sublime em saber que o Filho de Deus não era um ascético isolado do mundo, vivendo um espiritualismo etéreo, mas Ele era um amigo de pessoas imperfeitas, cheias de seus erros, falhas e vícios, pessoas espontâneas e naturais. Foi com esses que Jesus andou e gastou seu tempo, influenciando-os a amarem uns aos outros, e não catequizando-os a seguirem doutrinas ou regras.

Infelizmente, muitas igrejas não entendem este lado do Mestre, e acabam sendo intolerantes com membros que descumprem mandamentos morais do sistema. Jesus não colocou Pedro no "banco" e nem em "disciplina" quando este o negou. Ele apenas disse "Se me amas, apascenta minhas ovelhas". Estas igrejas também não conseguem "manter um diálogo franco e cortês com a chamada 'sociedade secular', abordando, com real sensibilidade, seus dramas e crises pessoais". Mas ao invés disso, vivem "voltadas para si mesma, engastadas com um evangeliquês tosco e clichês batidos", tentando trazer pessoas para dentro do saleiro e assim contrariando a ordem de Jesus que consiste em dispersar-se pelo mundo para salgá-lo. Muitos evangélicos protestam contra leis para aprovar casamento gay, querendo impor uma teocracia moralista inútil, mas poucos protestam contra as injustiças sociais ou por melhores condições de saúde, segurança e educação. Lastimável!

Jesus (Liberdade) x Igreja (Legalismo)

Membros de algumas denominações normalmente afirmam que são irmãos de membros de outras, porém no fundo se jactam de não pertencer àquele outro grupo com doutrinas e costumes estranhos aos seus e se sentem superiores e possuidores de uma verdade maior. Além disso, a liderança eclesiástica exerce um poder sobre a congregação que lembra o de pajés, xamãs e sumo-sacerdotes, que se arrogam possuidores de infalibilidade de palavras e ações. Mantém os membros sob rédeas curtíssimas e não admitem críticas ao seu trabalho, e quem ousar fazer isto "estará fora de cobertura espiritual".

Este tipo de igreja também criou a dicotomia sagrado/secular ou vida espiritual/vida material, sendo que Cristo jamais fez esta distinção. A vida do cristão não é separada por compartimentos. Tudo é espiritual, desde ler a bíblia até jogar futebol, passando por sexo e pela apreciação das artes como música, teatro, cinema, dança e literatura "seculares". Todo este peso de legalismo que certas igrejas impõem sobre suas ovelhas acerca de "pode isso, não pode aquilo" remonta à mentalidade medieval e é um baita retrocesso intelectual que gera pessoas neuróticas e infelizes.

Jesus (Integridade/Humildade) x Igreja (Imoralidade/orgulho)

Aristóteles já dizia: "somos não aquilo que falamos, mas o que fazemos". As atitudes de muitas igrejas, então, falam por si só o que elas de fato se tornaram. Segundo o autor, "o meio evangélico tornou-se um solo fertilíssimo para o aparecimento de toda sorte de cretinos que vendem a imagem de 'homens de Deus', mas, como insaciáveis sanguessugas, perceberam que montar uma rede de igrejas é um negócio superlucrativo, já que não tem que pagar imposto de renda (entidades religiosas são isentas)  e não precisam prestar contas de seus negócios escusos a ninguém, pois às ovelhas não são encaminhados relatórios financeiros, nem balanços contábeis. Resumindo, ninguém sabe quanto e com o que os líderes empregam o dinheiro dos dízimos".

Jesus (Escrituras) x Igreja (Entretenimento)

Muitos cultos evangélicos cada vez mais estão recheados de discursos vazios, onde líderes eufóricos bradam pregações e cânticos que mais servem como um alucinógeno para as multidões que preferem não utilizar o cérebro e são levadas nos mantras de rituais de vitórias, conquistas, revindicações, amarrações, batalhas espirituais, adorações extravagantes e místicas, etc. "Vamos vencer, triunfar, esmagar serpentes, derrubar gigantes, ficar bêbados no Espírito, etc", dizem muitos "pajés" evangélicos. Assim, entorpecidos com tantas mandingas egocêntricas, uma massa de cristãos deixam de refletir acerca das condições existenciais naturais e das graves dificuldades históricas enfrentadas pela nossa população, que deveriam ser enfrentadas com senso crítico e muita consciência de solidariedade, amor, serviços sociais, ajuda mútua, etc. Mas infelizmente, o que importa nestes ambientes é "pular, gritar, dançar e correr na presença do Rei. Puro ópio!"

"O resultado não poderia ser mais devastador. O ambiente que deveria ser marcado pela adoração em Espírito e em verdade, transformou-se num circo de quinta categoria, com direito a animadores vigaristas, equilibristas fraudulentos e um bando de palhaços sem a menor graça. Porém, o mais trágico é que a multidão que assiste a este espetáculo de horror ri de tudo, bate palmas e, no final, ainda grita 'aleluia'".

Conclusão

Em suma, Por uma igreja com a cara de Jesus é um resumo sério e de grande importância acerca de certas práticas absurdas que permeiam o meio evangélico nos dias de hoje. É um grito profético que fala tanto às igrejas históricas quanto às neo-pentecostais, passando pelas pentecostais e pelas comunidades "moderninhas". É uma palavra de exortação que deve ser ouvida urgentemente para que Cristo possa de fato viver em nós e assim gerar cristãos "humildes de espírito, que choram suas fraquezas, mansos, misericordiosos, pacificadores, limpos de coração e famintos e sedentos por justiça".

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E você, o que pensa sobre as igrejas evangélicas dos dias de hoje? Acredita que as práticas da maioria delas está de acordo com o Evangelho de Jesus? Escreva nos comentários!

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