sábado, 7 de julho de 2012
A Ética protestante e o espírito do capitalismo
Título original: Die Protestantische Ethik Und Der Geits des Kapitalismus
Autor: Max Weber (1864-1920)
Considerado um dos livros mais importantes do século XX no quesito sociologia, A Ética protestante e o espírito do capitalismo revela de forma soberba como as influências religiosas são capazes de moldar sociedades e culturas de forma revolucionária. Mais especificamente, como alguns conceitos propagados pelo protestantismo no século XVI e XVII conseguiram transformar o comportamento do homem com relação ao trabalho, ao dinheiro, à família e as relações destes itens para com Deus.
Através de uma rica base histórica, Weber começa seu ensaio com um interessante questionamento. Se é fato que inúmeras façanhas científicas foram promovidas por diversos povos na antiguidade, principalmente orientais, porque o desenvolvimento tecnológico moderno foi originado de países ocidentais? Foi na China antiga, por exemplo, que surgiram grandes invenções como o fósforo, papel, ferro fundido, bússola, pólvora, ponte suspensa, etc..., no entanto, foram os países ocidentais no século XVIII que revolucionaram a história da humanidade como nunca foi visto em dezenas de milhares de anos.
A resposta a esta questão, segundo o autor, está na mudança na forma como o homem se relacionava com o trabalho. O trabalho sempre foi visto, desde o início da humanidade, como um fardo a ser carregado com a finalidade de sobrevivência. Desde o homem caçador de dez mil anos atrás, até o artesão da Idade Média, o trabalho era apenas uma forma de subsistência. A igreja católica da Idade Média pregava que o homem devia ganhar com seu trabalho apenas o necessário para sua sobrevivência, e qualquer excesso de ganho devia ser dado para a Igreja. Muitas vezes, a mendicância e a pobreza eram reconhecidas como virtudes. Além disso, havia uma separação grande entre questões seculares (trabalho, família, dinheiro, negócios, diversão) e religiosas (Deus, igreja, boas obras).
No momento em que os pioneiros protestantes surgem na Alemanha, outra filosofia de vida é apresentada. Lutero, Calvino, Knox, e depois, John Wesley e Braklay anunciaram, dentre muitas doutrinas libertárias da tradição católica, a idéia de que o trabalho é uma vocação vinda de Deus. Ou seja, os militantes da reforma pregavam que não há separação entre o secular e religioso.
Os protestantes calvinistas, que acreditavam na doutrina da predestinação, justificavam este novo conceito dizendo que o trabalho faz parte do destino que Deus encarregou ao homem, devendo este se agarrar ao seu propósito com todas as forças. Já os arminianos, que acreditavam na doutrina do livre arbítrio, também conseguiam justificar a nova idéia afirmando que o trabalho era uma missão que Deus deu ao homem na Terra, com a finalidade de servir a humanidade, baseado no amor ao próximo. Assim, ambas as linhas protestantes, apesar de serem consideradas opostas entre si, estimulavam seus seguidores a trabalharem o máximo que puderem para agradar a Deus.
Weber resume como isto influenciou a origem do capitalismo:
"A ênfase da significação ascética de uma vocação fixa forneceu uma justificativa ética para a moderna divisão do trabalho em especialidades. De modo semelhante a interpretação providencial da obtenção de lucro justificou as atitudes dos homens de negócios."
É importante enfatizar que o livro aborda estes assuntos de forma muito mais aprofundada. O autor ressalta também que, obviamente, não foi apenas esta influência que gerou o capitalismo, mas sim um conjunto de fatores, dentre os quais a ética protestante se destaca. Com o passar do tempo, o capitalismo deixou completamente suas origens nobres de "dever para com a humanidade" e se transformou em um sistema imperialista, concentrador de renda e explorador de mão de obra barata. E estas características nada tem a ver com os princípios cristãos que valorizam o amor ao próximo. Acerca disto, em 1904 Weber faz uma previsão de como poderá ser o futuro da sociedade capitalista:
“especialistas sem espírito, sensualistas sem coração; nulidades que imaginam ter atingido um nível de civilização nunca antes alcançado."
Por fim, gostaria de indicar o link a seguir de um artigo mais detalhado sobre o livro, inclusive fazendo paralelos com a mentalidade das igrejas neopentecostais atuais, totalmente absorvidas pelo capitalismo consumista: http://oficinasociologica.blogspot.com.br/2012/01/etica-neopentecostal-e-espirito-do.html
E você, o que acha de tudo isso? Você realmente acredita que a ética protestante influenciou o início do capitalismo? E hoje, qual a relação do capitalismo com o cristianismo? Deixe nos comentários a sua opinião sobre o assunto.
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